Sim, a verdade é que as marcas têm na manga alguns truques para que gaste mais na Black Friday, mesmo que não se dê conta disso.
Com a sexta de feira de descontos aí à porta, o entusiasmo de encontrar verdadeiras pechinchas aumenta, e com isso aumentam também as probabilidades de vir a exceder o orçamento que tinha inicialmente previsto.
Antes de partir para as compras, conheça as estratégias de marketing mais utilizadas pelas grandes marcas e retalhistas.
Enquanto consumidor, esta é a melhor forma de se proteger a si e à sua carteira.
Os truques que o fazem gastar mais na Black Friday
Pague dois, leve três
É praticamente impossível que nunca tenha passado por uma daquelas promoções em que na compra de três unidades do mesmo produto, paga apenas duas. Ou então que na compra de dois artigos da mesma marca, não paga o de valor mais baixo.
Estes são dois exemplos de uma estratégia que cria no consumidor a sensação de valor acrescentado e convence-o a “investir” mais dinheiro para beneficiar do desconto.
Descontos só em alguns produtos
Esta é a velha estratégia da expressão “em artigos selecionados”: o consumidor é atraído com a promessa de descontos absolutamente fora de série, mas, quando chega à loja, descobre que só uma mão cheia de produtos é que é elegível para esse desconto.
A regra, neste caso, é: se tem de andar pela loja à procura de um produto que beneficie do desconto, provavelmente não precisa desse produto.
Descontos para mais tarde
Este tipo de descontos é muito usado em lojas que têm cartões de pontos ou de fidelização. Assentam no princípio de que, no momento da compra, paga o preço total do produto, mas recebe um cupão ou desconto em cartão no valor de uma percentagem desse preço para gastar mais tarde.
Ora, há aqui várias armadilhas numa só: por um lado, pode perfeitamente esquecer-se de usar o cupão depois (e a loja fica a lucrar). Por outro, pode não conseguir fazê-lo, graças a regras apertadas ou complicadas de cumprir, como por exemplo o desconto expirar em poucos dias ou ter um montante mínimo de compras para usufruir dele.
E mesmo não existindo uma quantia mínima estipulada, na maioria dos casos terá de usar o valor do cupão ou desconto de uma só vez, levando a comprar mais do que precisa só para tirar partido do desconto.
Envio gratuito, “mas”…
A maioria dos sites oferecem envio gratuito, desde que gaste um valor mínimo. A promessa de oferta dos custos de envio é, nestes casos, uma mera ilusão.
Acaba por gastar mais (porque acrescenta ao carrinho produtos de que não precisa só para se tornar elegível para o envio grátis) e com isso faz com que o lucro obtido pela empresa seja bem superior aos gastos com o envio (daí estarem a oferecer-lho).
Descontos só para os primeiros
Oferecer grandes descontos “limitados ao stock existente” é outra das estratégias das marcas para nos fazer gastar mais do que queríamos. É também um dos motivos pelos quais as imagens de consumidores a invadir as lojas durante a Black Friday se tornam cada vez mais comuns um pouco por todo o mundo.
Esta urgência, aliada à sensação de que temos de ser os primeiros a chegar para comprar, cria uma espécie de competição entre os clientes. Todos acorrem às lojas, todos entram, mas só alguns vão beneficiar do desconto.
Os outros… bem, os outros dificilmente vão sair da loja de mãos a abanar, o que significa que vão pagar o preço normal por produtos que, provavelmente, nem comprariam se aquele não fosse “o” dia do grande consumo.
Psicologia do consumo
Se achava que a disposição dos produtos nas lojas era simples coincidência, desengane-se: tudo é pensado ao pormenor e preparado ao detalhe para o grande dia da Black Friday.
Nesta data, quase todas as lojas posicionam os produtos mais caros – ou, em alternativa, os produtos com maior margem de lucro – do lado direito dos corredores. Porquê? Porque os estudos mostram que, quando entramos numa loja, temos tendência a virar à direita – comportamento que fica reforçado quando agimos em multidão.
Disposição da loja
Se, em plena Black Friday, já entrou na loja e seguiu pela direita, saiba que daí para a frente tudo vai aparecer “naturalmente” na frente dos seus olhos.
Comprou uma consola? Os videojogos estão mesmo ao lado. Circula entre os computadores? Prepare-se para ser aliciado por mochilas e todo o tipo de acessórios associados. Tudo com os melhores descontos de sempre, claro. Imperdível!
Falsos descontos
No caso português esta estratégia está agora mais difícil de implementar, porque as alterações introduzidas na lei não permitem que chamemos desconto a um preço que não seja o mais baixo dos últimos 30 dias consecutivos, na mesma loja.
No entanto, esta regra não se aplica a todos os países. Por isso, se faz compras internacionais pela internet, vá vigiando os preços com antecedência. Caso contrário, é possível que venha a comprar um produto com 50% de desconto, mas cujo preço foi previamente inflacionado. Contas feitas, pode até estar a pagar mais caro na Black Friday do que no resto do ano.
O medo de ficar de fora
A expressão inglesa FOMO (Fear of Missing Out), que pode ser traduzida como “medo de ficar de fora”, aplica-se neste contexto específico ao receio do consumidor de perder os melhores negócios.
O esquema é promovido pelas marcas, que nos bombardeiam com promoções “imperdíveis”, mas também por nós próprios.
Ao exibirmos com orgulho nas redes sociais as pechinchas que comprámos, provocamos nas outras pessoas, inadvertidamente ou não, uma sensação de terem perdido grandes negócios porque não foram às compras na mesma altura.
No fim da linha, o lucro cai no bolso dos mesmos: as marcas que disparam as vendas, impulsionadas pela tendência natural dos humanos para competirem entre si.