Share the post "TV por cabo: uma despesa supérflua ou um investimento inevitável?"
Outrora considerada um verdadeiro luxo ao alcance de poucos, a TV por cabo banalizou-se de tal forma que, hoje, é um dado adquirido em praticamente todas as casas. No entanto, nos anos mais recentes a concorrência nasceu feroz e coloca-se, por esta altura, a questão: ainda valerá a pena investir no serviço de TV por cabo?
A verdade é que o serviço há muito que não é conhecido como “TV por cabo”, muito por culpa da diversificação de operadoras. Com tantos fornecedores a quem encomendar o serviço – e com serviços cada vez mais completos e com mais negócios associados a eles -, ter uma TV por cabo já não é só ter um serviço de transmissão televisiva.
A verdade, no entanto, é que, mesmo assumindo um leque mais diversificado de ofertas, as operadoras não conseguiram evitar o nascimento de concorrentes muito ferozes ao tradicional serviço de TV por cabo. Eles estão a conquistar o mercado a passos largos e até há quem já vaticine o fim dos serviços por cabo tradicionais.
Vamos olhar para todas as perspetivas, para que compreenda o ponto em que estamos atualmente. Começamos, como sempre, pelo básico.
O que é a TV por cabo?
A TV por cabo veio modernizar o sistema de transmissão tradicional, que fazia chegar o sinal televisivo a casa dos telespectadores através de frequências que circulavam pela atmosfera. De forma simples, as estações televisivas enviavam o sinal para uma antena emissora e esta depois distribuía-o pelos recetores, que eram as antenas de cada casa.
Com o advento do serviço de TV por cabo, o sinal passou a circular, como o nome diz, por cabo: era emitido do lado da estação televisiva e encaminhado para casa dos telespectadores, onde uma espécie de computador (hoje conhecido por “box”) descodificava o sinal e “traduzia” na televisão.
Quais eram as grandes vantagens da TV por cabo?
Ao contrário do que acontecia com o sinal tradicional, a TV por cabo permitia aos telespectadores acederem a uma grande variedade de canais. Isto acontecia porque, ao contrário do que se passava com o sinal tradicional, no cabo não havia o risco de interferência, pelo que muitos sinais podiam cruzar-se sem problemas.
Havia alternativas?
A única alternativa que conseguia competir verdadeiramente com a TV por cabo era a antena parabólica, aquele famoso “prato” metálico que enfeitou tantas casas durante tantos anos. Esta opção era, contudo, bastante cara e o acesso aos canais pretendidos não era garantido.
Além disso, tal como acontece hoje com os operadores, havia, na altura, canais que só eram transmitidos por cabo, pelo que não conseguia vê-los mesmo que tivesse uma parabólica em casa.
Como evoluiu a TV por cabo?
Claro que a TV por cabo que conhecemos hoje nada tem a ver com aquela que fez as delícias de tantos no início dos anos 2000. Hoje em dia, a TV por cabo é muito, muito mais do que um simples serviço de TV: ela inclui centenas de canais de televisão, uma “box” inteligente que é uma verdadeira caixinha do tempo e lhe permite andar para trás na grelha, uma linha telefónica, um serviço de Internet e até um serviço de telemóvel.
Quanto custa, hoje, a TV por cabo?
Na verdade, é um pouco difícil responder com rigor a esta questão, já que nenhuma operadora lhe oferece um serviço de apenas TV. Tem, no mínimo, de contratar a TV e o telefone fixo para que as operadoras queiram ir lá a casa fazer a instalação, sendo que os preços mais em conta rondam os 25 euros por mês.
O valor, contudo, vai crescendo na proporção em que adiciona outros serviços ao pacote de TV por cabo: se quiser contar com TV, Internet, telefone fixo, telemóvel, Internet móvel – tudo da maior qualidade -, a conta pode facilmente ultrapassar a centena de euros mensais.
Como escolher aquela que é certa para mim?
Escolher um serviço de TV por cabo começa, hoje em dia, pela confirmação do sinal que existe na sua zona, porque ele pode não permitir contratar os serviços mais avançados da operadora.
Uma vez confirmada a disponibilidade dos serviços de que precisa, deve passar à avaliação das ofertas para fazê-las encaixar nas suas necessidades. A verdade é que nem todas as casas têm o mesmo consumo de telefone, telemóvel ou Internet, pelo que o ideal é escolher um serviço que cumpra o que quer.
Em cima dos preços praticados, considere ainda as ofertas promocionais e, claro, leia bem as letras pequeninas do contrato, para que o “desconto de amigo” não seja aplicável só durante um ano e, findo esse período, dê lugar a um verdadeiro murro no estômago.
Que alternativas há?
Se está decidido a abandonar ou nem sequer contratar um serviço de TV por cabo, saiba que, nos dias que correm, isso não o obriga a ficar sem televisão ou “preso” aos canais de sinal aberto. Há outro tipo de serviços, chamados “serviços de streaming”, que também lhe oferecem bons conteúdos regulares a qualquer hora. Se comparar os preços, vai ver que qualquer um deles sai mais barato do que a mensalidade de uma operadora tradicional de telecomunicações.
Além dos tão populares serviços de streaming, de que é exemplo a Netflix, também continuam a existir antenas parabólicas e, mais recentemente, o sinal TDT. No entanto, todos eles apresentam fragilidades: a Netflix, por exemplo, transmite principalmente conteúdos próprios (geralmente séries e filmes) e quase todos em inglês, ainda que com legendas.
As antenas parabólicas não viram uma evolução tecnológica propriamente espantosa, pelo que o acesso aos canais e a qualidade do sinal continuam a deixar muito a desejar; e a TDT só emite os canais do Estado e da Assembleia da República, limitando-o muito nas escolhas – apesar de ser gratuita, ao contrário de todas as outras concorrentes, e isso já ser uma grande vantagem.
Então, vale a pena continuar a pagar pela TV por cabo?
A resposta a esta pergunta é-lhe dada pelo seu próprio comportamento enquanto consumidor. Faça a si mesmo estas questões: costuma ver canais de TV que não sejam de sinal aberto? Fica-se pelas séries ou gosta de ver conteúdos mais variados? Que valor dá aos conteúdos nacionais?
Além disso, é importante ter em conta os utilizadores do serviço de televisão lá em casa: não se esqueça de que soluções como a Netflix podem representar algumas dificuldades para a população mais velha, por exemplo. Também é importante perceber que, para beneficiar desta alternativa, tem de ter um bom acesso à Internet.
É nesta fase que tocamos ainda num ponto sensível: o acesso à Internet. Repare que dissemos, acima, que as operadoras tendem a ser muito relutantes em oferecer-lhe um serviço que tenha apenas Internet – elas querem sempre juntar TV por cabo, Internet e telefone, no mínimo. Ora, se, para aderir aos serviços alternativos de streaming, vai precisar de Internet, então vai ter de pagar na mesma a uma operadora para aceder à rede – e somar esse custo ao do serviço de streaming.
Os serviços de Internet móvel que há no mercado – em que só traz consigo uma espécie de modem pequenino que lhe dá acesso à Internet – também podem ser tidos como solução para este dilema, mas os preços são mais caros do que os praticados pelos serviços mais comuns – e como as tarifas geralmente são cobradas em função do tráfego, ou seja, o custo é proporcional à quantidade de dados que faz circular, dificilmente compensará pagar um contrato de Internet móvel só para ver streaming e fugir aos negócios normais de TV por cabo.
A resposta é, assim, a de que ainda compensa contratar e pagar pela TV por cabo, ainda que esta solução nos pareça temporária e com os dias contados pelo mercado atual. Para já, poderá deixar-se ficar com a sua operadora e esperar um pouco para ver que alternativas sólidas surgem – não tardará muito a ter acesso a bons conteúdos sem se sentir refém das operadoras portuguesas.
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