Valeu a pena e basta lerem cada história que escrevi para poderem perceber como vivi cada dia de forma tão intensa, sem necessitar de muito dinheiro.
Nesta última semana acabei por gastar um pouco mais do que o normal. Pela primeira vez paguei para dormir, desde o início do ano, quando comecei a andar à boleia (sendo a terceira vez em toda a viagem). Não que tivesse pago uma fortuna, foram três euros para montar a tenda, um duche quente, Wi-Fi, uso de cozinha e melhor que tudo, com um grupo fantástico de viajantes.
Cafayate quase que me seduziu a ficar mais dias, mas dentro de mim sentia que tinha de continuar, estava a precisar de contactar com outra cultura. Ainda assim, faltavam-me mais de mil quilómetros e tão pouco queria fazê-los todos de seguida. Depois de passar uns pequenos povoados, cheguei a Salta que, sinceramente, me deixou desiludido. Nesta viagem as cidades não são o meu forte, preferindo pequenos povoados ou a natureza.
Na manhã seguinte cheguei à capital da última província mais a norte da Argentina, San Salvador de Jujuy, tentei um couchsurfing ainda nessa noite mas não consegui, apenas tive uma resposta na manhã seguinte e fiquei na dúvida se ficava ou se ia. Por um lado o couch que me iria receber parecia muito boa onda e na verdade também já estava a necessitar de um banho, cozinhar comida quente e lavar roupa, que já começava a escassear. Por outro lado, queria continuar e não parar noutra cidade. Fico ou vou? Tinha que tomar uma decisão nos próximos minutos.
Decidi ficar e foi a melhor decisão, acredito que o que acontece é sempre o melhor e se acontece é por alguma razão. Consegui fazer tudo o que tinha pensado e, durante o jantar, em que cozinhei umas lentilhas num refogado de cebola e tomate com batatas no forno e uma salada, contei-lhe algumas peripécias da viagem e ele falou me de que faz teatro e que foi participar num festival no México, deixando um bichinho dentro de mim.
No dia seguinte voltei para a estrada e num instante já estava em Punamarca, onde está a montanha de sete cores e um pequeno povoado com todas as casas da cor da terra. Segui e cheguei a Tilcara um povo um pouco maior com muita juventude e rodeada de montanhas, montei a minha tenda junto do rio e foi talvez a noite mais fria que passei dentro da tenda em toda a viagem, não sei a que temperatura chegou mas acredito que tenha chegado a temperaturas negativas, ou devido ao vento a sensação térmica devia ter sido de temperaturas negativas.
Foi a minha despedida da Argentina, nessa que foi a última noite no país de Che Guevara. No dia seguinte consegui várias boleias que me deixaram a noventa quilómetros da fronteira, eram 14h e tinha que pensar se tentaria toda a tarde e depois montava a tenda e continuava no dia seguinte, arriscando passar uma noite ainda mais gelada que a anterior devido à altitude ser mais elevada ou optava por ir de autocarro até à fronteira, caso ninguém parasse até às 16h/17h.
Optei pela segunda hipótese e às 18h estava a cruzar a fronteira. No próximo artigo vou contar como é viajar dentro da Bolívia, desde condutores alcoolizados, precipícios enormes em estradas muito estreitas e até o atropelamento de uma vaca… Sigam a viagem em Puririy.
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