Share the post "“Um país que é a noite”: reflexão sobre liberdade, história e arte"
Entre a poesia e o drama, a peça “Um país que é a noite” convida o público a revisitar um dos períodos mais desafiantes da história portuguesa, evocando emoções e reflexões atemporais.
Uma conversa fictícia, um diálogo realista
A obra, encenada na Sala Estúdio do Teatro da Trindade INATEL, leva-nos ao ano de 1959. Em plena repressão salazarista, dois gigantes da literatura portuguesa, Sophia de Mello Breyner Andresen e Jorge de Sena, encontram-se pela última vez antes do exílio do poeta. Este diálogo fictício, mas profundamente enraizado em eventos históricos, transporta-nos para um Portugal polarizado: entre liberdade e opressão, criatividade e censura.
A força da resistência poética
No centro da peça está a luta pela liberdade individual e o poder da poesia como resistência. Jorge de Sena, perseguido pela PIDE após o Golpe da Sé, encontra-se em rota de fuga, enquanto Sophia de Mello Breyner apela à esperança de construir um país diferente. Num dos momentos mais marcantes, Sophia recita:
“Quando a pátria que temos não a temos / Perdida por silêncio e por renúncia / Até a voz do mar se torna exílio / E a luz que nos rodeia é como grades.”
Este excerto sintetiza o sentimento de prisão que caracterizava o regime e a busca incessante por um espaço onde a liberdade e a criação pudessem florescer.
Entre passado e presente: o que a peça nos ensina
Embora a história retratada pareça distante, a peça provoca reflexões urgentes. As ameaças à liberdade de expressão, o medo do desconhecido e as divisões ideológicas continuam a desafiar sociedades contemporâneas.
Segundo os autores Tatiana Salem Levy e Flávia Lins e Silva, a peça explora “um pesadelo antecipado”, sugerindo que a história, se não compreendida e lembrada, pode repetir-se.
O que torna “Um país que é a noite” imperdível
Além do texto envolvente, a peça destaca-se pelo trabalho artístico:
- Encenação e interpretação cativantes – Martim Pedroso, também responsável pela coautoria, lidera um elenco talentoso composto por João Sá Nogueira, Maria João Falcão e Rui Melo.
- Elementos cénicos e visuais de excelência – desenho de luz, figurinos e sonoplastia criam uma atmosfera imersiva que transporta o público para o ambiente tenso da década de 1950.
- Música ao vivo: – uma camada adicional de emoção é proporcionada pelas interpretações musicais ao vivo.
Informações práticas
A peça estará em cena de 6 de fevereiro a 16 de março, de quarta-feira a domingo, às 19h, com duração de 80 minutos. Os bilhetes custam entre 10 e 14 euros e podem ser adquiridos no Teatro da Trindade INATEL.