O meu pai era um tipo incrível. Foi pelas mãos dele que conheci o mundo nas curvas de um globo, num tempo em que a internet estava longe e os atlas, as enciclopédias e os documentários eram nossos cúmplices nas horas que, juntos, viajávamos além do sofá de casa. O meu primeiro sonho de criança nasceu naquele sofá: um dia ia ver auroras boreais.
A primeira vez que vi as luzes do norte achei-as uma coisa do outro mundo. Da pequenez dos meus oito anos, não fazia ideia onde ficava aquele sítio mágico que os livros mostravam. Para mim, as auroras boreais estavam lá para cima, para o norte, e era para lá que tinha que ir. Com a idade foi chegando o conhecimento que o meu pai sempre incentivou e o sonho ganhou mais forma.
Um dia, a vida levou-me a Praga onde trabalhei numa produtora de cinema com o Jonbi Gudmundsson, um islandês. Um homem fascinante, divertido, descomplicado e apaixonado por aquele país que eu tanto queria conhecer. Os seus relatos das paisagens, das pessoas e dos costumes só aumentaram a minha curiosidade: seriam as coisas mesmo assim?
Foi isso que fui descobrir em outubro, numa viagem que começou a ser planeada lá longe, na infância.
Sou o Ricardo, e esta é a minha aventura na Islândia.
É melhor com companhia
Conheci a Agata, polaca, na Baixa do Porto enquanto ela estava de visita para o casamento de um amigos. Hospedeira numa grande companhia internacional, a paixão de ambos por conhecer o mundo saltou para a mesa do Miss’Opo e conversamos largas horas sobre os destinos que nos faltavam conhecer e os que mais nos apaixonaram nas viagens que já fizemos.
Da mesa para as redes sociais, não deixámos a conversa morrer e percebemos que as viagens para destinos que implicavam subir vulcões ou fazer longas caminhadas estavam no topo das nossas bucketlist. Há dois anos, por motivos profissionais, deixei a viagem à Islândia em suspenso. Um ano depois do primeiro encontro, encontrei a Agata, por acaso, de novo na cidade e nasceu a ideia de uma viagem à Islandia. Em junho decidimos partir e começámos logo a planear.
Se é possível conhecer a Islândia sozinho? Claro que sim! Aliás, um pouco por toda a ilha não faltam lobos solitários que partiram para esta pérola do atlântico para lhes descobrir os encantos mas também, para perceber mais sobre si próprios – é um curioso ponto em comum entre os turistas na linha. Mas a vida tem mais graça se partilhada, não é assim? Além disso, viajar a dois tem outra vantagem: os custos não são tão pesados.
A importância do orçamento
Começo com uma má e uma boa notícia: levem a carteira bem gorda porque o custo de vida na Islândia é caro, no entanto, com alguma paciência, pesquisa e organização, será capaz de não fugir do orçamento. Para a nossa estadia de nove dias na ilha, definimos o valor de 1500 euros, por pessoa, o que nos dá um orçamento diário de 166 euros. É apertado… mas é possível.
Viagem para a Islândia
- Porto – Gatwick – Porto: 100€
- Gatwick – Reykjavik: £32.99 (cerca de 39 euros)
- Aeroporto de Reykjavik – centro da cidade (autocarro): 20€
- Centro da cidade – aeroporto de Reykjavik (autocarro): 20€
- Reykjavik – Gatwick: £22,99 (cerca de 27 euros)
- Booking fee Gatwick – Reykjavik – Gatwick: £7,40 (cerca de 9 euros)
- Mala de porão: £61,98 (cerca de 74 euros)
- Total: 309 euros (por pessoa)
Estadia na Islândia
- Aluguer do material de campismo (2 cholchões, 8 dias/7 noites): 33€
- Aluguer de serviço de internet móvel (8 dias/7 noites): 54€
- Alojamento: 500€
- Aluguer carro: 750€
- Gasóleo: 317€
- Alimentação: 720€
- Total: 2374 euros (para dois)
Há muito a preparar!
Esta não é uma daquelas viagens em que basta fazer a mala e partir. É essencial traçar um plano de viagem, preparar e marcar com antecedência tudo o que for possível e é boa ideia reservar alguns meses para amealhar o que se vai gastar. Antes de partir, é necessário:
- Reservar viagens de avião
- Reservar viagens de autocarro
- Reservar alojamento em Reykjavik
- Reservar alojamento nas restantes cidades
- Reservar aluguer do carro
- Alugar equipamento de campismo (colchões insufláveis)
- Alugar dispositivo de internet móvel
- Definir orçamento diário
- Definir trajeto da “road trip”
- Definir atrações a visitar
- Definir atividades a realizar
- Comprar roupa e utensílios
- Planear refeições
Os imprescindíveis para a viagem
Não deixe nada para comprar no destino. Os preços são exorbitantes. Uma simples camisola de lã pode custar cerca de 250 euros. O tempo é rigoroso, por isso, deixo a minha lista de essenciais que me salvaram nesta viagem.
A escolha do voo
A viagem começa com a procura do voo e, como temos um orçamento a cumprir, escolhemos a WOW air, uma companhia low cost islandesa, que voa para a Reykjavik a preços incríveis – especialmente, a partir de Londres. Saímos do Porto, num voo da Easyjet, com destino a Gatwick onde nos aguardavam oito horas de espera até à partida para Reykjavik. Primeiro conselho: descansem bem nos dias anteriores.
O melhor é que o aeroporto de Gatwick está muito bem equipado para suportar esta espera. Há supermercados, cafés e os preços são bastante acessíveis – é possível fazer uma refeição completa por cerca de £6. O pior é que as zonas de descanso não são muitas, por isso, a espera pode ser dura e só temos direito a 90 minutos de internet gratuitos.
Ah! Não se esqueça de levar adaptadores para as tomadas britânicas. E mais importante ainda: nada de tirar fotografias no aeroporto, a não ser que queira ter problema com as equipas de segurança e ser obrigado a limpar todos os seus cartões de memória, como me aconteceu. Fica a dica.
A mala de viagem
Viajar para a Islândia sem bagagem de porão não é boa ideia como pode comprovar pela lista acima. O bilhete da WOW air inclui uma mala de cabine, nas medidas 42x32x25 cm, mas para ter mais espaço há duas opções:
- mala de cabine, com as medidas 56x45x25 cm, por £31,98 (cerca de 38 euros)
- bagagem de porão, até 20 kg, por £61,98 (cerca de 74 euros)
É boa ideia reservar, pelo menos, uma mala de porão para levar tudo aquilo que não pode seguir nas malas de cabine, nomeadamente, líquidos e objetos cortantes, mais pesados ou volumosos. Na mala de cabine, leve roupa interior (não vá a mala perder-se) e objetos de maior valor, como a câmara fotográfica, por exemplo.
A escolha do alojamento
A Islândia recebe cerca de dois milhões de turistas por ano e esta é uma das suas maiores riquezas. A presença dos turistas é forte e é uma pena não tirar partido desta espécie de intercâmbio cultural instantâneo. Posto isto, a escolha de alojamento na capital só podia ser uma, o Hostel Bus, pela certeza de que lá encontraríamos pessoas de todo o mundo.
Ao viajar pelo país, considerando o orçamento, optámos por alternar entre dormir no carro e ficar hospedados nas dezenas de guesthouses que estão espalhadas por toda a Islândia. Mesmo no local mais distante, havia sempre uma casa para nos dar pousada, ainda assim, recomendo que faça esta marcação com antecedência, por uma questão de gestão de custos.
Para conseguir poupar mais um pouco, experimente o Couchsurfing. Sem medos. Os islandeses têm orgulho em receber e são muito hospitaleiros.
A escolha do transporte
As deslocações são, como tudo o resto, caríssimas. Fora da cidade, não há sistema de transportes, por isso, não há como fugir ao aluguer. Sempre com o orçamento presente, optámos, ainda em Portugal, por alugar um Jeep Patriot que permite rebater os bancos traseiros e, assim, conseguimos dormir no carro. Se alugar colchões insufláveis, esta é uma solução muito confortável que permite reduzir, significativamente, os custos.
Porque esta opção de conhecer o país de caravana ou carro é muito comum, um pouco por toda a ilha existem parques de estacionamento gratuitos que mais parecem verdadeiros parques de campismo, com todas as comodidades para os viajantes, nomeadamente, água quente, supermercado, quartos de banho, balneários, pontos de eletricidade e, até, churrasqueiras. Toda a ilha está preparada para bem receber.
Além do seguro normal, recomendaram-nos um seguro extra, de proteção contra a gravilha. Como há imensa pedra por todo o lado, é muito possível que, durante a viagem, algumas saltem para o carro causando danos na pintura e nos vidros. É algo muito comum e, sem dúvida, compensa este cuidado.
Para deslocações em Reykjavik, a página Straeto é a salvação para planear qualquer viagem e não se perder.
O planeamento das refeições
Com ordenados a rondar os 4500 euros mensais, o custo de vida é muito elevado e isso nota-se bem no preço da alimentação (e em tudo o resto). Por exemplo, uma refeição simples, pode, facilmente, chegar aos 45 euros por pessoa. Está visto que comer fora deve ser bem avaliado. Nos supermercados, os preços são duas vezes mais caros do que em Portugal mas, ainda assim, é a opção mais poupada para se alimentar durante a estadia.
Para conseguir poupar um pouco mais, sugiro que faça compras em supermercados fora de Reykjavik, onde os preços são mais em conta, e que optem por restaurantes de grandes cadeias internacionais como o Domino’s Pizza. Lembre-se que há parques por toda a ilha onde pode preparar refeições simples, ou pode usar os microondas nos supermercados para aquecer uma sopa, por exemplo.
Ainda assim, não pode deixar de experimentar alguns pratos tradicionais no Café Loki, ou os melhores canelones que alguma vez comi, no Primo Ristorante, ambos em Reykjavik.
O planeamento da viagem
Ainda em Portugal, definimos o plano da viagem. Calculámos fazer entre 200 a 300 quilómetros por dia e foi, mais coisa menos coisa, a média que cumprimos. Não é demais referir que, ao lançar-se numa road trip, deve primeiro definir o plano da viagem, não só para não se perder mas, também, para tirar o máximo partido da viagem, otimizar o tempo de viagem, escolher bem os destinos e, claro, controlar o orçamento.
Dia 1
- Reykjavik (cidade)
- Blue Lagoon (lagoa termal)
- Rangá Hotel (hotel)
Dia 2
- Seljalandsfoss (queda d’água)
- Skógarfoss (queda d’água)
- Reynisfjara (praia)
- Vík í Mýrdal (cidade)
- Skaftafell (parque nacional)
Dia 3
- Jökulsárlón (praia)
- Öxi pass (montanha)
- Seyðisfjörður (cidade)
- Blabjorg (gesthouse)
Dia 4
- Dettifoss (queda d’água)
- Ásbyrgi (desfiladeiro)
- Selfoss (queda d’água)
- Reykjahlíð (cidade)
Dia 5
- Myvatn (gêiseres)
- Krafla (vulcão)
- Dimmuborgir (campos de lava)
- Grjótagjá (fosso de lava)
- Góðafoss (queda d’água)
- Akureyri (cidade)
- Sólgardar (guesthouse)
Dia 6
- Akureyri (cidade)
- Jólagarðurinn (vila do Pai Natal)
- Grenivik (cidade)
Dia 7
- Akureyri (cidade)
- Borgarnes (cidade)
Dia 8
- Glymur (desfiladeiro/queda d’água)
- Reykjavik (cidade)
- Café Loki (restaurante)
- Bus Hostel (hostel)
Dia 9
- Reykjavik (cidade)
- Regresso a casa
O São Pedro islandês é bipolar
Cada estação tem algo mágico para oferecer. No inverno, é como se estivesse dentro de um filme a preto e branco, a natureza está adormecida mas presente, as pessoas estão mais relaxadas e é o destino perfeito para desligar. No verão, há sol dia e noite, a natureza está coberta de todas as cores e é um experiência única. É também um período com mais turistas e mais filas.
No outono espera-nos mais drama, tão depressa está um dia radioso como o céu se pinta de negro. Por isso, é comum dizer-se na Islândia “se o tempo não está bom, espera cinco minutos” e é bem verdade. Em menos de nada, o céu está negro, há fortes rajadas de vento e chove a cântaros para, logo depois, as nuvens abrirem e o tempo mudar completamente.
É importante seguir a regra de vestir por camadas para estar preparado para os humores do São Pedro, especialmente, se vai viajar pela Islândia. Vestir roupa adequada é essencial para desfrutar do muito que há para ver, por isso, nem pense conhecer a ilha sem impermeáveis de qualidade. Antes de sair, confirme a meteorologia e tenha abertura para mudar de planos – vai acontecer.
Chegamos à Islândia
Duas horas e meia depois de embarcar, chegámos à Islândia e a receção não é das melhores. Chove e está muito vento. Se a chuva em quase nada difere daquilo que aconteceria no Porto, o vento não é para meninos. À saída do avião, algumas pessoas foram arrastadas, tal era a força do sopro de Éolo. Descomunal, é a palavra certa. Mas é isto que se espera desta ilha no Atlântico norte.
A ligação para Reykjavik é difícil, uma vez que o sistema de transportes públicos não é muito eficiente, pelo que optámos por comprar, antecipadamente, as viagens na companhia FlyBus. Apesar da empresa anunciar que o transporte nos leva até ao hotel, não é isso que se passa. Na verdade, é fornecida uma senha de ligação para um autocarro público que percorre a cidade. No nosso caso, levou-nos ao hotel.
A viagem demora uma hora e permite-nos absorver toda a grandeza e crueza da ilha. O cenário é dantesco. Se não é o apocalipse, parece mesmo. A Islândia não é como a maioria dos destinos europeus, por vezes, parece, literalmente, o fim do mundo. E a paisagem confirma-o: um imenso descampado, terra negra, imensas rochas e rajadas de vento fortíssimas. Parece que estamos noutro planeta. É impactante.
A Islândia e os islandeses
Dez vezes maior do que Portugal, a Islândia tem pouco mais de 330 mil habitantes, e a sua maioria vive na capital ou junto ao litoral. Orgulhosos do seu país, os islandeses respeitam, acima de tudo, a natureza. Por toda a ilha, não sentimos insegurança. Aliás, na Islândia não se vê polícia na rua. Eles existem mas não são precisos. Deixe as suas coisas no carro, sem problema, porque é garantido que quando regressar estará tudo igual.
Os islandeses são muito parecidos entre si, não só fisicamente como na personalidade. Aliás, a possibilidade de serem da mesma família é tão grande que existe até uma aplicação que lhes diz se são parentes. Verdade. São, possivelmente, o povo com maior sentido estético do mundo. Há design em tudo, até num simples porta-guardanapos. Essa atenção estética também se nota na forma como se vestem, chega uma moda e todos a adotam – enquanto lá estivemos todas (todas!) as mulheres usavam calças pretas rasgadas.
Nesta ilha, a natureza é diferente de qualquer outra parte do mundo. Aqui está o maior glaciar da Europa, alguns dos maiores e mais ativos vulcões do planeta, há campos de lava, praias de areia preta, icebergs e, há quem jure, elfos! Só nesta terra podemos olhar para o céu e em poucos minutos surge uma estrela cadente, logo depois outra e mais outra e mais outra. Todos os desejos do mundo cabem no céu islandês.
Fizemos quilómetros sem avistar vivalma e as povoações que foram surgindo tinham cerca de vinte casas mas é onde guardámos as melhores memórias da viagem. Há sempre uma família para nos receber com um café quente e uma tarte de maçã. Em Vík í Mýrdal, depois de dois dias a dormir no carro, fomos acolhidos numa destas guesthouses. Uma senhora mais velha recebeu-nos, falava um inglês perfeito e estivemos bastante tempo à conversa, entretanto, chegou o filho a quem ajudei a carregar umas telhas para a casa nova que o próprio estava a construir. De repente, estávamos em família. São assim os islandeses.
A vida em Reykjavik
Depois do trabalho, faça chuva ou sol, estão todos na rua e, ao fim de semana, o convívio segue noite fora até meio da manhã do dia seguinte. Ao contrário de outros povos, que são verdadeiros party animals para libertar a tensão do dia-a-dia, os islandeses divertem-se só porque sim. A vida é curta e tem que ser vivida, parece ser o mote. Durante o dia, em locais públicos como o Harpa, os locais deitam-se nos sofás para uma sesta. É, a qualidade de vida existe e está na Islândia.
Genuinamente simpáticos e atenciosos, sentimo-nos tão acolhidos nesta terra que há quem viva no hostel há mais de um mês. Apesar de existirem bastantes turistas na capital, o equilíbrio entre estrangeiros e locais é perfeito – como tudo por aqui, aliás. Os turistas sabem estar e já vão “filtrados” para o que a ilha oferece, é um tipo de viajante muito característico, que procura não só desfrutar da natureza em estado bruto mas também de um espiritualismo longe da religião. Senti que todos andavam à procura de encontrar-se, de respostas para perguntas que não sabem bem quais são.
Por se tratar de um país do norte da Europa, se esperava encontrar um povo frio e distante, pense de novo. Os islandeses são muito acolhedores, disponíveis, equilibrados e próximos. Diz-se que foi esta estreita ligação que os une que lhes permitiu sair da avassaladora crise, em 2008, de forma exemplar.
Imagine Peace Tower
Todos os anos acontece a cerimónia de iluminação da Imagine Peace Tower, uma criação de Yoko Ono, em memória a John Lennon, um marco que procura continuar a campanha do casal pela paz e lembrar que aquilo que nos une a todos é o amor. A torre acende-se no dia de aniversário do cantor, a 9 de outubro, e desliga-se a 8 de dezembro, na data da sua morte – em datas especiais, como o aniversário de Yoko Ono ou na noite de Ano Novo, as luzes da torre também se acendem.
Localizada na ilha Viðey, em Reykjavik, só lá conseguimos chegar de ferryboat ao que se segue uma caminhada de cerca de 10 minutos, num caminho iluminado por tochas, até um descampado onde vão acender os seis feixes de luz da Imagine Peace Tower. O espetáculo começa com o ícone de paz e amor, a música “Imagine”, dos Beatles, seguiu-se um concerto de musica tradicional islandesa e algumas breves palavras de Yoko Ono. O momento é muito bonito, intenso, comovente e com todos os muito emocionados.
Procurei saber porque é que a Islândia foi escolhida como casa da Imagine Peace Tower. A explicação é simples: pela sua beleza natural e por se tratar de um país amigo do ambiente e do mundo com a sua forte aposta na energia geotermal. Na minha análise, é mais do que isto. Este é um país mágico onde é impossível que quem o visita não se perca de amores por esta terra.
Akureyri: a cidade mais fofa do mundo
No norte da ilha, está um local, eleito em 2015 pelo Lonely Planet, como a melhor cidade da Europa. Depois desta pequena introdução, é preciso escrever isto: Akureyri roubou-me o coração. Na segunda cidade mais importante da Islândia, os candeeiros estão decorados com enormes laços e em todos os semáforos nos espera um coração vermelho quando nos obriga a parar.
Há detalhes fofos por todo o lado e até os fardos de palha são pintados com smiles divertidos e bem-dispostos. Mas há mais: na hamburgueria da cidade – a Hamborgarafabrikkan – o telefone toca para anunciar que nasceu mais um bebé na ilha. Pessoas de toda a Islândia, sempre que nasce um bebé, ligam para o restaurante, os donos tocam o sino e, ao final do dia, o contador de islandeses é atualizado. How sweet is that?
Todos precisamos de um pouco de magia na vida, certo? Enquanto aqui estivemos, ainda demos um salto até Jólagarðurinn, a vila do Pai Natal, para nos perdemos numa vila de contos de fadas. Terminámos com um passeio a cavalo na Quinta Skjaldarvik, uma antiga casa que já foi um infantário e agora é uma acolhedora guesthouse governada pela simpática família de Óli e Dísa.
Blue lagoon e um hotel inesquecível
A Blue Lagoon é paragem obrigatória e, chegados lá, a imagem é arrebatadora – previsível naquela que é uma das 25 maravilhas do mundo. Nesta piscina de água azul, alimentada por uma central elétrica de energia vulcânica, com 5 graus no exterior mas 38 graus dentro de água, tivemos um dos momentos mais relaxantes da viagem, cuidámos da pele com uma máscara de sílica e voltamos rejuvenescidos.
Uma vez na Islândia, não podíamos deixar passar a oportunidade de conhecer o Hotel Rangá, considerado o melhor hotel islandês, que conta com vários prémios internacionais: Iceland’s Leading Resort 2015, World’s Best Resort Hotel e Best Sustainable Hotel in Europe. Num hotel onde o serviço é de excelência mas que nos faz sentir como se estivéssemos em casa, os prémios são mais do que merecidos.
Junto a um rio, isolado num imenso descampado e longe da correria dos dias, o Rangá é o local perfeiro para ver as auroras. Foi no Rangá que, com a graça de um céu limpo, vimos as primeiras mas apenas as exposições longas da câmara nos revelaram tímidas luzes.
O lema deste hotel é simples: fazer os clientes felizes. É certo que podemos contar com a atenciosa, disponível e dedicada equipa para nos dar as melhores dicas, não só para ver as auroras como sobre qualquer outra coisa relacionada com a Islândia.
É verdade que uma noite neste hotel pode ser pesado para o orçamento, no entanto, o que perdem em euros ganham em experiência. É fácil perceber porque assim é, nas palavras do inspirador Ingi Þór Jakobsson.
A magia das auroras boreais
Quem visita a ilha tem uma coisa em mente: ver as auroras boreais e apreciar esta natureza em estado cru que nos arrebata. Quanto às primeiras, é importante estar preparado para a possibilidade de não as conseguir ver. Não há nada a fazer, a natureza é quem manda. Para as encontrar é preciso ir à procura e estar preparado para esperar longas horas.
Existem várias aplicações que indicam o melhor local, data e horário para assistir a este espectáculo natural e, só assim, podem aumentar as chances de ver as luzes do norte. Neste dia, o céu finalmente abriu e a aplicação indicou-nos o caminho. Estávamos a subir a montanha, na Selfoss Waterfall, e começámos a ver riscos verdes esbatidos, como umas linhas dançantes.
Quanto mais subimos, mais nítidas eram, no entanto, só de madrugada foi possível ver as auroras em todo o seu esplendor. Colocámos o despertador para a hora indicada, acordámos, e, lá fora, o céu recebia-nos pintado de um verde fluorescente, em todas as direções, até onde o olhar alcançava. Mágico! Era como se alguém – talvez um Elfo? – estivesse a atirar linhas para o céu.
A natureza em bruto
Os maiores fenómenos da natureza estão concentrados na Islândia. Por toda a ilha, na cidade mais remota ou pequena, há quedas d’água, desfiladeiros, praias de areia negra, lagoas de água quente, campos de lava, nascentes termais e a mão de Deus nas mais pequenas coisas.
É arrebatador estar perto de uma imponente queda d’água como a Skógarfoss, escalar os rochedos na praia de Reynisfjara, receber os pedaços de iceberg que a lagoa de Jökulsárlón traz à costa, percorrer um desfiladeiro como o de Ásbyrgi ou contemplar a imponência do vulcão Krafla. Coloca o mundo e a vida em perspetiva.
Fechámos esta aventura em Glymur com os 5 km mais desafiantes da nossa vida. A caminhada começa na queda d’água para depois subir até ao topo sem rota traçada. Aqui, tudo acontece. Desde atravessar o rio em cima de troncos, a trepar inclinações de quase 90 graus, para depois voltar a atravessar o rio até chegar à queda d’água por entre rápidos. Depois disto… toca a descer novamente. Incrível!
Não nos despedimos da Islândia sem provar comida típica islandesa. Foi no Café Loki que provámos um estufado de peixe e batatas divinal. Voltámos ao Bus Hotel para, no dia seguinte, regressarmos a casa. O meu futuro já está marcado: um dia, acabarei lá os meus dias, provavelmente, na cidade mais fofa do mundo.
Veja também: