Joel Araújo
Joel Araújo
13 Set, 2016 - 06:00

Uma ode ao automóvel Clássico

Joel Araújo

No mundo moderno em que vivemos, existe uma série de tarefas cada vez mais complexa que determina se pessoa x ou y está pronta para ser adulta.

Uma ode ao automóvel Clássico

Para alguns, só se é adulto quando se acaba a Universidade. Para outros, é quando passas a tratar do IRS. Para alguns é casar e ter filhos. Há ainda quem considere que ser adulto é saber estrelar um ovo sem sujar (muito) a cozinha. Cada um com as suas metas.

Para mim, uma dessas tarefas foi comprar um carro.  

Tive a sorte de em criança ter um contacto muito próximo com automóveis, como na manhã fria de 1993 em que levei com um Renault 19 Chamade bordô na cara. Tinha eu 3 anos de idade. Ironia do destino, durante as 3 semanas que passei no hospital, todas as minhas visitas trariam carrinhos de brincar para me oferecer. Só faltou um R19. 

Há nove meses, com a necessidade de um veículo diário, decidi comprar como primeiro carro um Toyota Starlet ep70 de 1988. Neste curto espaço de tempo, para além de ir e vir do emprego, já pude fazer e aprender várias coisas com ele: percorri literalmente Portugal de norte a sul pela EN2; organizei um encontro nacional de Starlets; juntei-me a um clube de Clássicos; inscrevi-o numa prova automobilística de regularidade; participei em inúmeras concentrações de Clássicos; criei um blog sobre o carro; fui à caça de peças, desmontei e montei outras; descobri novas utilidades para a escova dos dentes e acima de tudo, conduzi, conduzi, conduzi.  

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Antes de perguntarem o porquê de comprar um carro antigo como carro diário, já vos deixei várias razões em cima. Metade das atividades que mencionei não seriam possíveis com um carro moderno, destacando o facto de a comunidade de entusiastas de Clássicos ser das mais divertidas e saudáveis a que se pode pertencer.

Para além destes extras, se procurarem no dicionário um sinónimo de “Toyota dos 80s” o mais provável é encontrarem palavras como “Sherman”, “Imortalidade” ou, com alguma sorte, “Cavacas”. Aliado aos baixos preços praticados nos carros japoneses antigos usados, temos receita para o sucesso. Ter um carro popular antigo é conseguir manter a individualidade na estrada sem ficar falido, é conduzir e preservar uma história, e é acima de tudo um despertar simultâneo de todos os sentidos: O toque analógico e mecânico dos instrumentos, do volante, pedais e caixa de velocidades; o cheiro a gasolina; o som do carburador e o vislumbre da estética intemporal. Aprender as suas “manias” e procedimentos envolve-nos numa experiência de propriedade e condução irreproduzíveis por outro carro moderno comum.

Tal como inúmeros jovens que neste momento procuram o seu primeiro carro, escolhi comprar um carro antigo sem experiência prévia, sem uma família ligada aos automóveis, sem o mínimo conhecimento de mecânica e com pouco dinheiro. Apenas vontade.