Share the post "Coronavírus: o longo caminho para a vacina contra a Covid-19"
Logo que a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o surto de Covid-19 como uma pandemia, vários países lançaram-se numa corrida ao desenvolvimento de uma vacina contra a COVID-19.
Por entre avanços e recuos, a comunidade científica tem vindo a dar passos consequentes para encontrar uma fórmula que possa obstar à contínua transmissão da doença. Mas na realidade, quão longe estamos de uma solução?
Vacina contra a COVID-19. Uma corrida contra o tempo
De acordo com um informações publicadas pelo jornal britânico The Guardian, cerca de 35 instituições já estão a trabalhar numa vacina contra a Covid-19, sendo que 4 delas já têm programados testes em humanos, o que indicia o fim de cadeia antes de poder ser comercializada.
Estes avanços têm por base a sequenciação do material genético do vírus Sars-CoV-2, responsável pelo Covid-19. Cedida pelos cientistas chineses, esta informação possibilita que especialistas de todo o mundo estejam, simultaneamente, a pesquisar e a tentar encontrar a cura para esta doença, enquanto analisam a forma como o vírus invade as células humanas.
Vacinas já existentes
Neste momento, o esforço e o investimento também numa vacina contra a COVID-19 estão direcionados para o desenvolvimento de vacinas para outros coronavírus, uma vez que eles já foram responsáveis por outras epidemias, como o Sars (severe acute respiratory syndrome) que afetou a China entre 2002 e 2004 e o Mers (Middle East respiratory syndrome) que teve início na Arábia Saudita, em 2012.
Outra possibilidade que continua em cima da mesa é a de testar as vacinas usadas para prevenir esses outros coronavírus e perceber se poderão ter alguma utilidade na prevenção do COVID-19. Isto, porque este virus Sars-CoV-2 partilha cerca de 80% a 90% de material genético com o vírus que causou o Sars na China, há cerca de 16/18 anos.
Como será esta vacina?
Habitualmente, as vacinas injetam no organismo uma pequena dose de vírus (vivo, mas enfraquecido), de maneira a que o sistema imunitário crie anti-corpos contra esse “agente invasor” e os “memorize”, de forma a que volte a produzir esses anti-corpos, caso contraiam o vírus.
Em relação a este aspeto, pode dizer-se que os centros de investigação estão a explorar várias possibilidades de vacina contra a COVID-19, desde as mais tradicionais (como a explicada acima), às mais inovadoras e experimentais.
Testes clínicos em 3 fases
Antes de uma eventual aprovação e regulamentação, a prospectiva vacina contra a COVID-19 está sujeita a testes clínicos que obedecem a 3 fases.
1ª – A vacina é testada em algumas dezenas de voluntários saudáveis, no sentido de avaliar a sua segurança, assim como os efeitos adversos.
2ª – Nesta fase, a vacina é testada em centenas de pessoas, geralmente numa região do globo particularmente afetada pela doença em causa. Aqui, o objetivo é avaliar a sua eficácia.
3ª – A última etapa corresponde ao teste da vacina em milhares de pessoas.
Isto significa que estas fases não podem ser omitidas, nem aceleradas, sobretudo se nunca tiverem sido aprovadas vacinas similares que é o caso do Sars-CoV-2. Além de se tratar de uma patologia nova, as vacinas que estão a ser preparadas recorrem a tecnologias que também ainda não foram testadas.
O desafio do tempo e da quantidade
Por todas estas razões, habitualmente as vacinas demoram uma década ou mais a serem aprovadas e reguladas. Annelies Wilder-Smith, professora na London School of Hygiene and Tropical Medicine, disse ao The Guardian que duvida que esta vacina contra a COVID-19 esteja pronta em menos de 18 meses.
Para lá da questão do tempo, há outro problema que se coloca: o da quantidade. Mesmo quando a vacina for aprovada, ela será precisa em grandes quantidades, superiores à capacidade de produção. Além disso, de acordo com Jonathan Quick, especialista em saúde mundial da Duke University na Carolina do Norte, conseguir uma vacina segura e eficaz é apenas um dos primeiros passos para a imunização global.
Competição entre países
Depois, há barreiras políticas e económicas que podem interferir neste processo. Além de ser necessário estabelecer prioridades relativamente aos grupos a imunizar primeiro (o que até pode ser relativamente simples na maioria dos casos), num cenário de pandemia como este, a competição entre países pela vacina contra a COVID-19 será o cenário mais provável.
É que se as pandemias afetam sempre mais os países frágeis e pobres, com sistemas de saúde mais carentes, também são esses os territórios com mais dificuldade em conseguir disputar e obter as vacinas. Foi, aliás, isso mesmo que aconteceu em 2009, durante a pandemia da gripe H1N1, como lembra o The Guardian.
Conclusão
Ainda há muito por saber e muitos cenários em aberto sobre esta matéria. Contudo, muitos especialistas acreditam que a pandemia irá atingir o seu pico e declínio, antes mesmo de estar disponível uma vacina.
É certo que a vacina COVID-19 pode ajudar a salvar muitas vidas, especialmente se o vírus se tornar endémico ou sazonal. Porém, para já, o desafio é continuar a apostar na sua contenção, praticando sempre que possível o isolamento, lavando as mãos bem e frequentemente e usando sempre máscara.