Quando entramos nos bastidores do Portugal Fashion é fácil reconhecê-lo: Vasco Freitas, o cabeleireiro mais famoso do país, modela, sorridente, o cabelo a uma das manequins que está prestes a entrar. Há mais de dez anos a trabalhar no mundo da moda, é já uma referência na indústria.
Quem é Vasco Freitas?
Com a infância a ter uma aldeia como pano de fundo, Vasco começa por assumir que ao início odiava cabelos: “O meu pai era barbeiro e eu odiava. Jogava futebol profissional e sábado era o único dia em que não tinha aulas nem treinos e, às vezes, o meu pai levava-me para o salão quando estava mais apertado, para eu o ajudar. E eu odiava aquilo. Preferia ser trolha a cabeleireiro. Mas depois, como tinha o material em casa e os meus amigos começaram a ir à tropa, era eu quem lhes rapava o cabelo. À noite eram os testes para depois rapar. E foi aí que me picou o bichinho. Ao início foi difícil, sobretudo para quem vem duma aldeia no interior, porque um homem nesta área levava sempre o rótulo de homossexual. E isso é difícil para arrancar. Felizmente já não é assim.”
Hoje, são já mais de 20 as estações a trabalhar com designers nacionais como Katty Xiomara, Miguel Vieira ou Luís Buchinho. Nas passerelles são eles quem ditam as tendências mas, nos cabelos, é Vasco quem as cria. A curiosidade torna-se óbvia: onde é que encontra inspiração? “ Hoje em dia as minhas referências são tentar perceber o que faz uma mulher olhar. Qual é a mulher que faz inveja às mulheres. Pessoas com estilos próprios como a Anna Wintour ou a Carine Roitfeld e, outras, incógnitas inspiram-me. Aquelas que trazem algo novo, que dizemos é diferente mas eu gosto. Mais do que importar imagem, temos antes que vender imagem.”
Quando lhe perguntámos como é que se pode vencer no mundo da moda, Vasco é claro: “Portugal é um país pequenino, o trabalho vem ao de cima sempre que se é persistente e consistente na nossa qualidade”. Além das semanas da moda, do patrocinador e do salão na Foz do Porto, o cabeleireiro trabalha cada vez mais ao nível da fotografia: “Tenho feito Vogue Japão, Itália, Madame Figaro, entre outras”.
Tal como acontece com as roupas ou os sapatos, os cabelos são uma variável muito importante na moda. O hair stylist realça que “ o que mais gosto é que o cabelo é das poucas coisas que não dá para mexer em photoshop. Dá para mudar a cor da roupa, mas o cabelo é o que lá está exposto. E, como qualquer outro aspecto num desfile e até na vida“ o cabelo tem que estar em sintonia com a roupa. Hoje uma mulher olha-se ao espelho num todo e o cabelo acaba por ser aquela parte do corpo que sofre pouca transformação. Por isso, é bom que seja como aquele sapato que dá com qualquer tipo de roupa. Vai ter que dar para o dia a dia, para a noite, para a festa e para o casamento”.
Relativamente às tendências nos cabelos para a próxima primavera/verão, Vasco Freitas destaca que as colecções mais quentes resultam sempre “dum acasalamento com as colecções de outono/inverno”. Assim, “trabalha-se muito os entrançados, mas acima de tudo são os shapes das cabeças. Tentamos cada vez mais respeitar os adns de cada cabelo e, acima de tudo, trabalhamos os shapes justos. As colecções são um bocadinho oversized, por isso os cabelos querem-se slim fit, sejam ondulados ou lisos. Usam-se justos para não fazer cabeças grandes como nos 50’s ou nos 60’s. O que se procura é manter a silhueta. Quando estamos a 100 metros e a roupa está oversized – retirando-nos a curva da anca – acabamos por ter a do ombro e a do pescoço a destacar a feminilidade da mulher”.
Afinal, “a mulher do século XXI gosta de ter os cuidados todos, mas não gosta de ver os profissionais nela, nem os logos. Gosta de ir ao cabeleireiro, mas não gosta de sair com ar de brushing ou com a cor riscada ou alaranjada. E com a makeup a mesma coisa, gosta de se maquilhar para ter um ar bonito, natural e bem tratado. Até na roupa, gosta de um bom corte mas já não gosta de logos. Temos que acompanhar essa transição”.
Se ficou curiosa e quer conhecer o trabalho de Vasco Freitas de perto, o salão do cabeleireiro fica na Rua de Gondarém, n.º 655, no Porto.
Veja também: