Share the post "Veículos autónomos: serão uma ameaça à indústria automóvel tradicional?"
Os veículos autónomos agitam a bandeira da Internet das Coisas (IoT) como nenhum outro produto ou serviço. Eles são o topo de gama mais mediático dos objetos smart que prometem mudar a nossa vida para sempre.
Apesar da introdução da Inteligência Artificial já estar a acontecer em várias frentes há muito tempo, é nos carros autónomos que a evidência deste novo mundo de sensores, processamento, conectividade e AI ganha contornos de realidade palpável.
Fábricas que funcionam há anos com robôs, diagnósticos de saúde feitos com maior frequência por máquinas, e assistentes virtuais que nos ligam e desligam a TV, não nos impressionam tanto como um veículo que circula na estrada sem condutor.
Mas para a indústria automóvel, este frente a frente com a Inteligência Artificial já está a desmoronar a sua cadeia de valor tradicional.
Veículos autónomos: futuro da mobilidade
Até agora os estímulos permanentes do sector eram investir num novo design, na componente tecnológica e ambiental.
O último grande desafio foi a passagem para os carros híbridos ou totalmente elétricos, mudança à qual reagiu com a lentidão que todos estamos a testemunhar.
Esta é uma indústria que levou muitos anos a estabelecer-se e a determinar a sua cadeia de valor, garantindo que cada ponto dessa cadeia, desde o desenho à distribuição, atingisse a sua quota parte de lucro razoável.
Mas tudo indica que a mudança para o carros inteligentes e ligados ao mundo digital vai exigir uma adaptação mais rápida e significativa. A diferença entre uma linha de produção na velha Detroit ou na nova e moderna Silicon Valley, não é apenas de tecnologia, mas sim de atitude face à tecnologia.
Enquanto que na indústria tradicional o ciclo de criação de um novo automóvel respeitava prazos específicos que levavam cerca de cinco anos a lançar um novo modelo depois de ser exaustivamente testado, neste momento a ideologia das startups já contagiou o sector.
Novas cadeias de valor
O objectivo das novas empresas é avançar com a introdução de nova tecnologia, mesmo antes de estar totalmente testada, preocupar-se com as consequências depois.
Os negócios da Uber e da Testla com os veículos autónomos são sinónimo disso mesmo. Ambas as empresas não estão apenas apostadas em quebrar a cadeia de valor, vendendo diretamente o seu produto ao cliente sem recorrer a revendedores tradicionais.
Elas apostam também em romper com as infraestruturas e regulamentos de mercado, avançando sem se preocuparem que esse mercado esteja ou não pronto para receber os novos produtos ou serviços que desenvolvem.
Revolução no relação entre veículo e utilizador
As plataformas digitais e a forma como estes novos jogadores entraram no mercado tradicional altera também a relação entre as marcas que fabricam e os seus consumidores.
Enquanto que durante muito tempo o ato de compra de um veículo era tratado pelo marketing dos fabricantes como um ato de grande envolvimento emocional entre comprador e produto, hoje as novas empresas já não o tratam assim.
O conhecimento que têm dos utilizadores, produzido pela recolha de dados nas suas plataformas, permite-lhes saber muito mais sobre quem está online para criar os chamados “micro-momentos de decisão” e conquistar compradores.
Hoje sabe-se que a maioria dos compradores associa a compra de um carro a eventos da sua vida, como um novo filho ou um novo trabalho, e as plataformas online sabem exatamente quando e como aproveitar esses eventos.
Mobilidade e ambiente
A juntar a esta revolução na relação entre comprador e marca, está também a revolução que está a acontecer na relação entre comprador e carro. Os consumidores apostam cada vez mais em diversificar os seus meios de locomoção graças às preocupações que têm com a sua flexibilidade de locomoção e com o ambiente.
O carro, como propriedade privada, já não é a única solução no horizonte onde o conceito de veículo partilhado e alugado tem vindo a ganhar terreno. E este é um conceito que é muito mais fácil de acomodar numa linha de produção de uma Uber, do que numa linha de produção de um fabricante tradicional.
Veículos autónomos: modelo de negócio
Esta é a pergunta que fazem os fabricantes de automóveis que durante décadas marcaram presença na indústria e que neste momento estão a testar e a apalpar o terreno para perceber como o seu negócio vai evoluir.
Para as marcas tradicionais as mudanças que os próximos 5 anos reservam serão muito mais significativas do que todas que aconteceram nas últimas 5 décadas.
Os veículos autónomos devem chegar em força nos próximos anos e o resultado mais provável é que aconteçam cada vez mais parcerias entre fornecedores de tecnologia e fornecedores de sistemas automóveis tradicionais aconteçam sendo que os serviços associados de assistência virtual terão de completar o produto.
Isto só por si justifica a angústia que já estão a sentir os grandes fabricantes do sector e também os vários serviços a jusante da produção como concessionárias, garagens de mecânica e mesmo agências de aluguer convencionais.