Alguns dos marcos romanos em Portugal têm mais de 2.000 anos e foram resistindo à passagem dos séculos, sendo alvo de admiração nos dias de hoje. Conímbriga é um dos mais espetaculares.
Mas de Norte a Sul a presença dos romanos é evidente, para gáudio dos adeptos de história, arqueologia, arquitetura ou curiosidades em geral.
Entre vilas, minas, pontes e até barragens, alguns dos monumentos romanos no nosso país ainda continuam de pé, ou pelo menos vestígios significativos dos mesmos, o que diz muito sobre a qualidade e avançadas técnicas de construção deste povo.
A cerca de 15 quilómetros de Coimbra, encontramos as ruínas de Conímbriga, um dos locais mais visitados do país, pela carga histórica que possui e por ser uma das ruínas mais bem estudadas do país.
Conímbriga: a genialidade dos romanos
Os romanos chegaram à região por volta do século I a.C., numa altura em que a região já era habitada por outros povos, mas foi a influência romana que trouxe outros hábitos e costumes, entre os quais se conta a produção agrícola. E, dessa época, restam os restos e ruínas de uma “cidade”, que nos dá indícios de que os romanos estavam uns largos passos à frente em termos de desenvolvimento.
As Ruínas de Conimbriga são conhecidas desde o século XVI. Em 1873, o Instituto de Coimbra criou uma secção e um Museu de Arqueologia e deu início ao estudo do local. Em 1899, efetua as primeiras sondagens de vulto, desenha a planta do oppidum e executa os primeiros levantamentos de mosaicos.
A partir de 1929 iniciam-se escavações em Conimbriga e com a realização do XI Congresso Internacional de Antropologia e Pré-História e em 1930, o Estado adquire os primeiros terrenos. Nos anos quarenta e cinquenta do século XX são realizadas obras de reconstituição e consolidação das ruínas, sendo que o Museu Monográfico de Conimbriga foi criado em 1962.
Traçado de Conímbriga
As escavações arqueológicas foram pondo a descoberto uma parte muito significativa do traçado desta cidade possibilitando, ao visitante das Ruínas, a comprovação de uma planificação urbanística laboriosa e atenta a todas as necessidades: o fórum, o aqueduto, os bairros de comércio, indústria e habitação, uma estalagem, várias termas, o anfiteatro, as muralhas para circunscrição e defesa da cidade.
Deste conjunto, sobressai um bairro de ricas casas senhoriais – que se opõe diametralmente às insulae da plebe, pela complexidade da sua construção e requinte decorativo – donde se destaca “A Casa dos Repuxos”, de grande peristilo ajardinado e pavimentada com mosaicos policromos, preservados in situ, exibindo motivos mitológicos, geométricos, ou representando, muito simplesmente, o real quotidiano.
outros vestígios dos romanos em portugal
O Império Romano dominou praticamente toda a Península Ibérica. Como tal, o seu legado é ainda em muitas regiões, com maior ou menor grandiosidade. Segóvia, em Espanha, é um exemplo da monumentalidade das suas obras, mas em Portugal há outros locais marcantes e que assinalam a passagem desta civilização por estas terras.
Minas Serra de Valongo
Este local romano é particularmente apreciado na região, nomeadamente pelo Clube de Montanhismo Alto Relevo, que acredita que no subsolo de Valongo, Paredes e Gondomar existe “o maior complexo mineiro romano do mundo”.
Para tal, baseiam-se em “relatos de especialistas na mineração romana (que) apontam que Valongo tem o maior complexo mineiro romano a nível de mineração primária, ou seja, subterrânea. E a área de mineração romana estende-se para Paredes e Gondomar. O nosso objectivo é proporcionar os estudos (científicos) sobre o complexo para que este seja classificado”.
Esta organização não-governamental desenvolve a sua atividade na área do ambiente e, para tal, realiza estudos espeleológicos nas serras. Foi numa dessas ações a norte de Santa Justa, que descobriram “centenas de cavidades com cerca de 20 séculos de existência, as quais constituem a marca presente sobre um passado dedicado à exploração de minério.”
Termas de São Pedro do Sul
Situadas na margem esquerda do Rio Vouga, a base destas termas de elevada qualidade foi inicialmente construída pelos romanos, daí ser inicialmente conhecida como “balneum romano”, nomeadamente nos primeiros anos do século I da era cristã.
Desses tempos, observam-se “restos de uma piscina, troços de fustes e capitéis de grandes colunas e lápides com inscrições”. Em 1152, D. Afonso Henriques reconheceu a crescente importância da vila e, como tal, concedeu-lhe o primeiro foral, o que fez com que ascendesse a concelho. E a prova da importância das Termas de São Pedro do Sul é tal que o próprio rei elegeu este como local de recuperação após uma fratura numa perna sofrida na Batalha de Badajoz.
Ammaia, Portalegre
A cidade romana de Ammaia apenas foi redescoberta no século passado. Desde então, que tem sido alvo de escavações e investigações por parte de cientistas provenientes de todos os cantos do mundo. Porém, a cidade nunca caiu no esquecimento junto da população local.
Construída de raiz no séc. I d.C., Ammaia alcançou o esplendor apenas nos trezentos anos seguintes e só deixam de existir referências de ser um local habitado a partir do séc. IX.
O local está envolto num mito: sabia-se que teria havido por aquela zona uma grande cidade, mas ninguém saberia muito bem onde e qual realmente a sua proporção.
Felizmente, no início do séc. XX tudo se confirmou. Hoje, o desenho e a arquitectura de Ammaia são alvo de grande interesse e conferem um atrativo importante para a região.
Ponte de Vila Formosa, Portalegre
Esta ponte romana, além de ser bastante utilizada ao longo dos séculos, ainda hoje é fundamental na circulação viária regional.
Destaca-se pela existência de pegões retangulares, “decorados com uma moldura de sabor clássico, suportam seis arcos, de abertura idêntica (8,95m), onde assenta um tabuleiro de perfil horizontal com 116,50m de comprimento, por 6,70m de largura.
Entre os arcos, existem cinco olhais, permitindo a vazão da água aquando de cheias violentas.” Por tudo isto, a ponte insere-se no âmbito da arquitetura civil romana.
Templo de Évora, Évora
Este edifício, ou o que resta dele, é mais conhecido por Templo de Diana e localiza-se em pleno centro histórico de Évora.
Data do séc. I, altura em que a cidade era conhecida como “Liberatias Iulia”. Nos séculos seguintes, o edifício sofreu algumas alterações arquitetónicas, até que, devido essencialmente às invasões germânicas do séc. V, que destruíram grande parte de Évora, foi de tal forma danificado que apenas sobraram as colunas que ainda hoje podemos observar.
Barragem romana (Beja)
Desde 1997 que esta barragem está classificada como “Imóvel de Interesse Público”, o que permite preservar um bonito pedaço de história e exemplo da passagem dos romanos em Portugal.
A barragem foi criada para reter as águas pluviais e o caudal das fontes localizadas nas imediações, para que, posteriormente, essa água pudesse ser utilizada nos diversos trabalhos agrícolas realizados na zona da atual Vila Ruiva.
Em termos estruturais, a represa apresenta uma amurada com 80 metros de comprimento por 1,60 metros de largura e altura máxima de 1,80 metros, além de amplos contrafortes que a fortalecem exteriormente. É uma barragem de grande beleza, apesar de não ser tão megalómana como muitas das que existem atualmente.
Ruínas de Milreu, Faro
A apenas 8 quilómetros de Faro, localiza-se a Villa Romana de Milreu, que foi habitada por famílias de elevado estatuto social e político. No séc. IV, foi erguido um edifício religioso de grande ostentação e cujas abóbadas ainda hoje podem ser observadas.
Este templo também serviu o culto islâmico desde o séc. VI até ao séc. XI. Já entre os sécs. XVI e XIX, foi erguida uma casa rural com contrafortes cilíndricos.
Estes pequenos resquícios revelam-se como um importante volume de achados arqueológicos, que enriquem a história da região.