Share the post "Viajar de autocaravana: experiência única, com ou sem destino"
A pandemia virou tudo do avesso. A forma como nos relacionamos, a maneira como trabalhamos e, definitivamente, como viajamos. Por isso, neste estranho ano de 2020, viajar de autocaravana tornou-se tão ou mais popular que a mochila às costas ou os hotéis “all included”.
A principal vantagem de viajar assim é a quase total liberdade para se deslocar para qualquer sítio e em qualquer altura, fazendo com que esta não tenha que ser uma atividade sazonal. Em qualquer altura pode alugar uma autocaravana e partir à descoberta do país com praticamente a casa às costas.
viajar de caravana: road trip sem amarras
Assim, o Ekonomista também se fez à estrada para ver o que tem feito tanta gente optar por viajar de autocaravana. Pesaram-se os prós e os contras. Mediram-se as distâncias, estudou-se a pertinência da convivência (e gostos musicais!) a bordo, traçou-se a rota (sempre perto de restaurantes de estalo, claro) e alugou-se o veículo na Indie Campers.
Sim, uma autocaravana não é propriamente um brinquedo barato, tão pouco fácil de acomodar na garagem. Daí que o aluguer seja cada vez mais popular e em conta. Tudo tratado, pé na estrada.
Dia 1. Rolar até Porto Côvo
Arrancamos do Porto, com um fim de semana prolongado em vista. Primeiro, nada como começar a rolar e a conhecer a autocaravana. Apesar de se conduzir com muita facilidade, viajar de autocaravana não é exactamente o mesmo que ir de férias com um Smart, isto falando apenas de condução. Mas rápida e facilmente se apanha o jeito e se começa a rolar estada fora sem sobressaltos e em total conforto.
Assim, a primeira paragem ficou apontada para a Samouqueira, em Sines, aproveitando todo o equipamento da autocaravana para um almoço “on the road”. O destino final deste primeiro dia era Porto Côvo, mas a deslumbrante costa alentejano encerra segredos e paisagens absolutamente irresistíveis. A partir de Sines, parece haver um outro país que se abre perante os olhos, onde a azáfama quotidiana das grandes cidades é um conceito distante, se não mesmo incompreensível.
Ao jantar, e já com algumas horas de estrada, e devidamente estacionada a autocaravana, a escolha recaiu sobre o restaurante Arte e Sal, localizado na praia de Morgavel e com uma vista espetacular sobre o litoral alentejano. Se a opção for jantar em Porto Côvo, não precisa de a roer laranjas na falésia ou assar pargos na praia, como canta Rui Veloso. A escolha é variada, mas recomendamos o Zé Inácio, um dos melhores espaços para degustar as iguarias locais.
Dia 2. Zambujeira e Cabo Sardão
Acordar de manhã, com os primeiros raios de sol, numa autocaravana perto do mar é uma experiência que toda a gente deve ter pelo menos uma vez na vida. Foi o que fizemos, enquanto saboreávamos o pequeno almoço e, claro, prepararmos a ida até à Ilha do Pessegueiro ao som da icónica música do Rui Veloso – já vamos com 2 referência à música porque é realmente algo muito relevante para uma viagem deste estilo.
De seguida, mão no volante e há que rolar até Vila Nova de Milfontes, a princesa do litoral alentejano. Para o almoço, tentamos evitar a evidente e famosa escolha da Tasca do Celso e deparamo-nos com um opíparo almoço do Porto das Barcas, um restaurante junto ao mar, de comida fresca, tradicional e extraordinariamente bem confeccionada. O peixe e o marisco são reis e não vale a pena tentar resistir.
A seguir, tomou-se a estrada rumo ao Cabo Sardão, com as suas imponentes escarpas cavadas a pique na direção do mar revolto. Fica na estrada costeira que liga Almograve à Zambujeira e tem ainda um imponente farol, construído em 1915, e com 17 metros de altura. Foi com esta envolvência que preparamos o jantar. Viajar de autocaravana tem esta vantagem, Quando a fome aperta ou a paisagem convida está quase tudo à mão.
Na autocaravana da Indie Campers que nos transportou era possível fazer uma refeição de estalo (não faltam os utensílios necessários à preparação), há todo o conforto para os viajantes e absoluta segurança. Estamos a falar de mesa, cadeira, fogão, frigorífico, o que mais precisam ? Por isso, optamos por ficar por ali, em frente a uma paisagem esmagadora. No dia seguinte havia mais quilómetros para fazer.
Dia 3. Estranha forma de praia
O destino seguinte foi a Zambujeira do Mar, que para além de uma praia majestosa, pouco mais tem para oferecer. Contudo, o nosso principal objetivo do dia era o Brejão e mais propriamente a chamada praia da Amália.
Situada em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano, está em estado quase puro e deve o seu nome à mais famosa fadista de sempre, Amália Rodrigues (lá está, música novamente!). Foi ela quem antes de qualquer multidão descobriu o fantástico litoral alentejano e ali comprou um terreno, onde construiu uma casa com vista para o mar. Para conseguirem visitar esta esta incrível praia, sugiro que atentem a hora das marés porque o areal desaparece com o subir da maré.
Foi por ali que almoçamos, com toda a tranquilidade, como deve ser, antes de rumarmos até Odeceixe, já no concelho de Aljezur. Odeceixe é uma praia monumental, parece engolida por água por todos os lados, e permite um distanciamento social que se agradece. O jantar teve lugar na fantástica Casa Dorita com peixe fresco e uma bela vista sobre a praia que é simultaneamente banhada por rio e mar. Terminamos a jornada do dia no Parque de Campismo de Odeceixe, até porque as autocaravanas também precisam de descanso e manutenção.
Dia 4. Pela estrada fora
Aljezur é, muito provavelmente, um dos concelhos mais subvalorizados do país. O que é um pena. Ou não… A verdade é que conta com algumas das praias mais espetaculares de Portugal Continental, como a de Vale Figueira, a Carrapateira ou a Amoreira.
Acabamos por escolher a praia do Monte Clérigo para o almoço a bordo da autocaravana, seguindo depois para a espetacular praia da Arrifana, onde passamos a noite, não sem antes um glorioso jantar no restaurante Arte Bianca ali perto, junto á Urbanização Vale da Telha.
Embalados pelo som do Atlântico adormecemos para a última noite antes do regresso ao Porto com a certeza de que viajar de autocaravana irá muito rapidamente de ser um opção radical para se transformar numa das formas preferenciais de se passear e conhecer o país. Até porque quando chegamos ao Porto a vontade era mesmo carregar no acelerador e seguir viagem pela estrada fora!