Share the post "Volkswagen Carocha: nascido na guerra para o sucesso na paz"
O Volkswagen Carocha é um dos automóveis mais famosos do mundo e foi, durante muito tempo, o carro mais produzido globalmente.
O Volkswagen Carocha está ligado ao nome Porsche, embora com uma geração de diferença até chegar aos carros de Züffehausen. Como explicamos na história do Porsche 911, o responsável do Carocha foi Ferdinand Porsche, pai do Ferdinand criador do Porsche 356 e avô do Ferdinand que concebeu o primeiro 911.
Antes do VW Carocha ser produzido com sucesso, houve algumas tentativas infrutíferas. Por exemplo, Ferdinand Porsche construiu três protótipos para a Zündapp, fabricante de motos que pretendia lançar-se no mercado dos automóveis. No entanto, por razões financeiras, a Zündapp cancelou o contrato e durante a guerra os protótipos desapareceram.
Ferdinand Porsche acabou por desenvolver um novo Volkswagen com a NSU. Já tinha motor boxer de quatro cilindros e suspensão por barras de torção. Mais uma vez, por razões financeiras acabaram por ditar o fim do projeto.
O protótipo que Ferdinand guardou, sobreviveu à grande guerra e está no museu da Volkswagen, na Alemanha.
Volkswagen Carocha: um pedido de Hitler
Decidido a desenvolver um carro alemão que servisse o interesse dos alemães, Hitler procurava um responsável que pudesse dar forma à sua ambição. Após a apresentação dos projetos por parte de três engenheiros, Ferdinand, com conhecimentos privilegiados junto do Fürher, acabou por ser selecionado.
Hitler tinha um caderno de encargos específico e com exigências como transportar dois adultos e três crianças, não gastar mais que 7l/100 km, manter velocidades de 100 km/h, motor refrigerado a ar e manutenção fácil e económica.
Após alguns meses de negociações, o contrato foi assinado em Junho de 1934. O desenvolvimento do projeto Volkswagen Carocha foi conturbado e encontrou diversas dificuldades, quer técnicas, quer impostas por entidades que deveriam aprovar o carro.
A empresa responsável por testar e aprovar o carro tinha preferência por carros de luxo (habituada ao período antes da guerra) e o Volkswagen Carocha era tudo menos isso.
Mais obstáculos
Outro dos obstáculos era Heinrich Nordhoff, um executivo ligado à Opel, que viria, ele próprio, a ser responsável pelo sucesso do Carocha, para quem os automóveis deveriam ser construídos pelos fabricantes e não pelo estado.
Após meses de ensaios com vários tipos de motores, em outubro de 1936, o Carocha foi submetido a rigorosos e extensos testes de estrada, que passou com distinção.
Após muitos outros protótipos do Carocha, utilizados para diversos fins, e com o Volkswagen já pronto para início de produção, a associação RDA, responsável pela aprovação do “carro do povo”, acabou por interromper o projeto do Carocha, ligado ao estado.
Para levar avante a produção daquele que viria a ser um carro icónico, foi fundada uma sociedade especificamente para a construção do automóvel. A 15 de agosto de 1940, sai das linhas de produção o primeiro Carocha, mas ainda sem se chamar Volkswagen.
Chamava-se KdF, de Kraft durch Freude, numa tradução livre, “veículo da Força pela Alegria”. Dos 640 KdF-Wagen produzidos, nenhum deles chegou ao povo, tendo ficado todos na elite do partido nazi.
Volkswagen Carocha: carro de guerra
Durante a segunda Guerra Mundial, a força de produção foi centrada em prol do exército alemão. O Volkswagen Carocha deu azo a outros tipos de veículos para uso militar.
É conhecido o Kübelwagen, uma espécie de todo-o-terreno, com tração 4×2, que permitia deslocações por caminhos mais difíceis ou acidentados. A mesma base serviu para criar um carro anfíbio e um outro carro destinado a oficiais. Este já se distinguia pela carroçaria aerodinâmica que conhecemos do Carocha e destinava-se a patentes mais elevadas do exército alemão.
Depois da guerra, a fábrica onde se produzia o Volkswagen, batizada Wolfsburg, foi reativada pelo Major britânico Ivan Hirst, produzindo o Carocha para o povo alemão e forças de ocupação.
Em 1948, a administração da fábrica passou para as mãos de Heinz Nordhoff, que nunca vira o Carocha com bons olhos quando o carro foi apresentado.
Nordhoff acabou por ser responsável pelo aumento de produção, promovendo o Volkswagen a vários níveis e atraindo novos clientes com a fiabilidade e simplicidade como trunfos.
Foi o responsável pelo início de exportação do Carocha, nomeadamente para os Estados Unidos, onde se chamava Beetle.
O carro mais vendido do mundo
A adaptação do Volkswagen Carocha fora da Alemanha não foi um processo fácil. Além das contrariedades do menor valor da moeda alemã face ao dólar, os americanos, bem como clientes de outros países, não estavam acostumados a carros com uma estética tão peculiar e uma motorização refrigerada a ar.
A adaptação do Carocha começou a ser mais fácil à medida que as dificuldades económicas desciam.
Surgiu, então, a oportunidade de investir mais em manobras de publicidade e marketing. Os custos de manutenção reduzidos, consumos abaixo dos de automóveis concorrentes, fiabilidade e versatilidade eram argumentos usados na venda.
A base mecânica do Carocha deu azo a outros modelos, como o mais requintado Karmann Ghia ou a carrinha Kombi, conhecida como “Pão de Forma”, que usava o mesmo motor apesar de outro chassis.
Novas dificuldade financeiras, durante os anos 1950, impediram a Volkswagen de investir na evolução do Carocha, o carro único da marca e que, com a passagem do tempo, precisava de progredir. Os mercados sul americanos foram alguns dos responsáveis pela continuidade do sucesso do Carocha nas décadas seguintes.
O Volkswagen Carocha foi o carro mais vendido do mundo por muitos anos, com mais de 24 milhões de unidades. A Volkswagen terminou a produção do Beetle nos anos 1980, exceto na fábrica mexicana de Puebla, de onde a última unidade saiu no dia 30 de Julho de 2003. Está no Museu da Volkswagen, na Alemanha.