A vida na ilha do Faial corre, regra geral, sem grandes sobressaltos. É próprio dos Açores, mas uma vez por outra a terra mostra que está ali para impor respeito e faz-se ouvir. Foi o que aconteceu com o vulcão dos Capelinhos, a 27 de setembro de 1957.
Durante aproximadamente um ano, a atividade sísmica transformou de forma radical o extremo oeste da ilha açoriana.
Grande parte da população local emigrou, os campos ficaram devastados, as habitações destruídas. Ninguém morreu, mas a paisagem nunca mais voltaria a ser a mesma.
A erupção do vulcão dos Capelinhos acrescentou 2,5 quilómetros quadrados ao Faial e nas décadas seguintes transformou-se numa atração não só para muitos estudiosos da sismologia, mas também dos turistas que desejam ver com os seu próprios olhos aquilo que uma erupção vulcânica pode fazer.
Vulcão dos Capelinhos: conhecer pelo trilhos
Para começar esta viagem, deve começar pelo Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos, que integra todo o acervo do antigo Museu Geológico do Vulcão.
Esta visita ao centro é muito importante, principalmente porque toda a área em volta do vulcão está classificada como paisagem protegida de elevado interesse geológico e biológico e foi recentemente nomeada monumento natural.
Assim sendo, a visita à região envolve alguns cuidados e limitações que devem ser observados para que possa fruir da paisagem em toda a sua plenitude.
Aliás o Parque Natural do Faial, onde se inclui o vulcão dos Capelinhos, tem 14 áreas protegidas, que ocupam 18 por cento da área terrestre, correspondendo a a cerca de 30 quilómetros quadrados (mais 189 quilómetros quadrados de área marítima), albergando habitats únicos no mundo , com espécies de fauna e flora que só se encontram nos Açores.
E uma das melhores formas de conhecer a ilha é a pé, através dos seu inúmeros trilhos. Lance-se numa caminhada que não vai mesmo esquecer.
Trilho do Vulcão dos Capelinhos
De momento, o acesso ao vulcão dos Capelinhos encontra-se interdito por razões de segurança. A erupção de 1957 criou uma paisagem quase lunar, repleta de cinzas vulcânicas e ao longo do trilho é possível encontrar importantes elementos que testemunham os treze meses de atividade sísmica.
Logo no início pode observar-se a chaminé do Costado da Nau, um antigo vulcão que marcava a linha de costa antes de o vulcão dos Capelinhos fazer crescer o território.
Quando está disponível, a visita a este trilho é efetuada entre o nascer e o pôr do sol, na companhia de um guia do Parque Natural do Faial. Não se aventure sozinho. Deve ser sempre utilizado o trilho assinalado e a visita está limitada a 80 pessoas por dia e 16 em simultâneo. A permanência na área protegida não pode ultrapassar as duas horas.
- Dificuldade: média
- Extensão: 2,4 quilómetros
- Duração média: 02:00
- Altitude máxima: 90 metros
- Equipamento: calçado para caminhadas, impermeável, chapéu, protetor solar e água
Trilho Capelo-Capelinhos
Este trilho arranca junto à estrada que sobre para o lugar do Cabeço Verde (tem várias placas informativas) e abarca locais imperdíveis, como a Furna Ruim, o Caldeirão, a Península do Capelo e observar alguns exemplares da floresta Laurissilva.
A seguir, suba a escadaria em direção ao Cabeço do Canto, onde conseguirá admirar a paisagem do vulcão dos Capelinhos.
- Dificuldade: média
- Extensão: 2,6 quilómetros
- Duração média: 02:00
- Altitude máxima: 488 metros
- Equipamento: calçado para caminhadas, impermeável, chapéu, protetor solar e água
Trilho Descida à Caldeira
É no Miradouro da Caldeira que este trilho começa e acaba. Pelo meio, vai descer até o fundo de uma das mais espetaculares e maiores caldeiras vulcânicas do arquipélago, com toda a beleza natural da vegetação Laurissilva húmida.
Trata-se da caldeira de um vulcão com uma área de cerca de dois quilómetros de diâmetro e uma profundidade média de 400 metros. A visita é sempre acompanhada por um guia e efetua-se entre o nascer e o pôr do sol, com o acesso condicionado a 40 visitantes diários. A permanência na área não deve exceder as três horas.
- Dificuldade: alta
- Extensão: 3 quilómetros
- Duração média: 03:30
- Altitude máxima: 908 metros
- Equipamento: calçado para caminhadas, impermeável, chapéu, protetor solar e água
Trilho Dez Vulcões
Claro está que a atividade sismológica nos Açores não se limita ao vulcão dos Capelinhos. Todos o arquipélago sente aqui e ali um ou outro abalo e por isso a população já está habituada.
No trilho dos Dez Vulcões, que também começa no Miradouro da Caldeira e termina no Porto do Comprido (Capelo), o visitante percorre dez dos principais vulcões responsáveis pela formação da Península do Capelo. O percurso associa três segmentos de trilhos existentes no Faial: a Caldeira, a Levada e o Capelo-Capelinhos.
Com um desnível de aproximadamente 1000 metros, este trilho permite descobrir grande parte da flora endémica dos Açores e termina precisamente no Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos.
- Dificuldade: alta
- Extensão: 19, 3 quilómetros
- Duração média: 07:00
- Altitude máxima: 934 metros
- Equipamento: calçado para caminhadas, impermeável, chapéu, protetor solar e água
Vulcão dos Capelinhos: conhecer o Faial
Rumar aos Açores para ver de perto os Capelinhos é também uma excelente oportunidade para conhecer mais a fundo a ilha do Faial, no extremo ocidental do Grupo Central do arquipélago dos Açores. Está separada da ilha do Pico por um braço de mar com 8,3 quilómetros e é possível observar ao longe a imponência da montanha mais alta de Portugal.
Também conhecida pela ilha das hortênsias, flor de tom azulado que em julho e agosto explode um pouco por todo o lado, o Faial tem como principal cidade a Horta, onde se contam algumas atrações.
Miradouro da Espalamaca e Monte da Guia
Daqui consegue ter uma visão absolutamente assombrosa de parte substancial da ilha do Faial. O miradouro é ‘guardado’ por uma cruz com 30 metros de altura e por uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Em dias de bom tempo, consegue avistar-se as restantes ilhas do Grupo Central dos Açores: Pico, São Jorge e Graciosa.
Já o Monte da Guia é um cone vulcânico com vista sobre a Baía do Porto Pim e a cidade da Horta.
Fábrica da Baleia de Porto Pim
A indústria baleeira já desempenhou um papel fundamental da economia da ilha. A exposição permanente neste núcleo museológico conta com praticamente toda a sua maquinaria original. Ali, pode seguir-se como era toda a cadeia de processamento do cachalote para a obtenção dos subprodutos (óleos, farinhas de carne, ossos, sangue) muito procurados em outras eras. Pode ainda admirar o esqueleto de um cachalote fêmea.
Marina da Horta
É um dos portos mais famoso do mundo e ponto de passagem quase obrigatório para quem atravessa do Atlântico. A tradição manda quem chega a pintar nos paredões da marina um testemunho , dizendo-se que tal é imperioso para quem deseja proteção divina no resto da viagem. Não deixe de admirar as pinturas (umas mais ingénuas, outras de verdadeiros artistas) que fazem desta marina uma das mais famosas do mundo.
Peter Café Sport
Inaugurado em 1918, o Peter Café Sport é muito provavelmente um dos estabelecimentos do género mais famosos no mundo dos velejadores e uma verdadeira instituição do Faial e da Horta. Baleeiros, agentes secretos, navegadores, desportistas, celebridades, já todos beberam um gin no Peter Café Sport. A não perder.
Seja o vulcão dos Capelinhos, seja a imensa beleza natural dos Açores, conhecer o Faial promete ser uma jornada que tão cedo não vai esquecer.