É uma idade respeitável. O Walkman, um dos dispositivos mais icónicos do final do século XX, faz 45 anos, durante os quais revolucionou a forma como as pessoas ouviam música, tornando-a portátil e acessível a qualquer momento.
Este pequeno aparelho, lançado pela Sony em 1979, permitiu que, pela primeira vez, os utilizadores pudessem desfrutar das suas cassetes favoritas enquanto se deslocavam, algo que até então era inimaginável. É uma história é marcada por inovação, sucesso global e impacto duradouro na indústria da música e da tecnologia.
É também uma história de muitos acasos, alguma sorte e muita visão de alguns protagonistas. A começar logo pela forma como surgiu.
O Walkman foi uma “encomenda” do cofundador da Sony, Masaru Ibuka, que procurava uma maneira de ouvir ópera durante as suas longas viagens de negócios.
Antes da invenção deste dispositivo, os gravadores de cassetes portáteis eram volumosos e pensados para a gravação, não para a reprodução de música. Por isso, Ibuka encomendou à equipa da Sony (liderada à altura por Nobutoshi Kihara) a criação de um aparelho compacto e leve, capaz de reproduzir música com alta qualidade.
Walkman: qualidade de som e portabilidade
A engenharia por trás do Walkman foi uma tarefa desafiadora, mas a equipa da Sony conseguiu desenvolver um produto que combinava uma ótima qualidade de som com portabilidade, graças ao uso de auscultadores leves e um design inovador.
Quando o primeiro modelo, o TPS-L2, foi lançado em julho de 1979, a receção foi algo gelada. Havia algum ceticismo quanto ao sucesso daquele dispositivo. No entanto, o conceito rapidamente ganhou popularidade.
As pessoas apreciavam a liberdade de poder ouvir música em qualquer lugar: na rua, nos transportes públicos, em viagens ou enquanto faziam exercício. Este novo comportamento alterou radicalmente a forma como as pessoas se relacionavam com a música.
Sucesso global
O Walkman foi um sucesso instantâneo, e a Sony rapidamente se viu obrigada a expandir a linha para diferentes modelos. Nos primeiros anos, o Walkman era essencialmente um leitor de cassetes portátil. No entanto, com o avanço da tecnologia, a Sony começou a introduzir novos formatos e funcionalidades.
Apareceram Walkmans que funcionavam com rádio FM, modelos à prova de água para desportistas e, mais tarde, versões que reproduziam CDs e até MiniDiscs.
Durante a década de 1980 e 1990, o Walkman tornou-se um verdadeiro fenómeno cultural, especialmente entre os jovens.
A marca Walkman tornou-se sinónimo de leitores de música portáteis, independentemente do fabricante. A popularidade do aparelho foi também impulsionada pela crescente cultura do fitness e do jogging, com muitos utilizadores a levarem o Walkman consigo durante os treinos.
No auge da sua popularidade, a Sony vendeu milhões de unidades por todo o mundo e o Walkman tornou-se num símbolo de individualidade e estilo.
As campanhas de marketing agressivas, focadas na ideia de liberdade e no prazer de ouvir música de forma privada, ajudaram a consolidar a posição do Walkman como um dos produtos mais icónicos da era moderna.
Declínio com o digital
Com a chegada do novo milénio e o desenvolvimento de tecnologias digitais, como os leitores de MP3, o Walkman começou a perder terreno. A Sony tentou adaptar-se às novas tendências lançando o Walkman digital, mas concorrentes como o iPod da Apple e outros leitores de MP3 acabaram por dominar o mercado.
Apesar dos esforços da Sony, o Walkman tradicional, com cassetes ou CDs, tornou-se obsoleto à medida que o armazenamento digital de música se tornou a norma.
Em 2010, a Sony anunciou oficialmente o fim da produção do Walkman de cassetes, marcando o fim de uma era. Contudo, o Walkman continuou a evoluir em formatos digitais, e a marca ainda hoje sobrevive, embora com um apelo mais nicho.
Walkman na cultura pop
- Nome alternativo: O Walkman quase não foi lançado com esse nome. A Sony pensou em vários nomes para o aparelho, incluindo Soundabout e Stowaway, mas acabou por optar por Walkman, que já era usado informalmente pelos engenheiros da empresa.
- Pressman abriu o caminho: O Pressman era um gravador de cassetes destinado a jornalistas. Alguns engenheiros da Sony removeram o dispositivo de gravação e adicionaram um conjunto simples de auriculares para criar o primeiro protótipo do leitor de música portátil. Nascia um ícone.
- Sucesso de milhões: Nos primeiros dois meses, foram vendidas 50 mil unidades. Entre 1979 e 2009, ano em que o Walkman foi como que “descontinuado”, foram vendidos 385 milhões de aparelhos da série. Ficou para a história uma campanha de marketing única e agressiva, com funcionários da Sony pelas ruas equipados com Walkmans. Ali, partilhavam a experiência de utilização com o público emprestando os seus auriculares.
- Centenas de modelos: A Sony lançou muitos, muitos modelos diferentes de Walkman ao longo dos anos (com todas as variações, serão cerca de 300), com melhorias que incluíam redução de ruído, reprodução de áudio digital e até conectividade Bluetooth em alguns dos modelos mais recentes.
- Walkman no espaço: Em 1984, o Walkman foi levado ao espaço pelo astronauta Svetlana Savitskaya durante uma missão soviética. Isto mostrou a versatilidade e popularidade do aparelho até fora da Terra.
- O impacto cultural: O Walkman não era apenas um aparelho tecnológico; tornou-se um ícone cultural. Foi destaque em inúmeros filmes e séries, sendo associado à ideia de liberdade e de poder levar a música para qualquer lugar.
Ultrapassado ou não, a verdade é que o Walkman revolucionou a forma como as pessoas interagiam com a música, tornando-a portátil e pessoal.
A sua história é uma prova do impacto duradouro da inovação tecnológica e da pegada que algumas invenções deixam na humanidade.
Muito embora os leitores de cassetes tenham caído em desuso (embora comecem a ressurgir no mercado vintage), o legado do Walkman permanece presente na forma como ouvimos música hoje. É, definitivamente, um marco no design e na experiência musical.