Elsa Santos
Elsa Santos
22 Jan, 2024 - 15:04

Idosos no mercado de trabalho: a realidade portuguesa

Elsa Santos

Portugal é um dos países com mais idosos no mercado de trabalho. Qual é o panorama? Será este um país para velhos?

Portugal é um dos países com mais idosos no mercado de trabalho e um dos principais com maior percentagem de população acima dos 50 anos. Será este um país para “velhos”? Descubra.

Acaba por ser inevitável o facto de Portugal ter um número elevado de idosos, nomeadamente, na casa dos 60. Isto porque de acordo com o Eurostat, Portugal é o país que está a envelhecer mais rapidamente no conjunto dos 27 estados-membros da União Europeia (UE).

A baixa taxa de natalidade mantém-se, quebrada sobretudo pelos cidadãos estrangeiros, emigrantes e refugiados. A idade de reforma, para lá dos 65 anos, os baixos valores das pensões e o custo de vida, fazem com que uma grande parte das pessoas trabalhe até muito tarde.

Estarão as empresas e organismos públicos e privados nacionais preparados e abertos a esta tendência de aumento de idosos no mercado de trabalho? E os trabalhadores, como podem preparar-se para se manter mais tempo ativos e produtivos profissionalmente?

Reunimos alguma informação relevante que procura responder a estas questões.

População portuguesa em números: um país ao contrário

Em 2022, metade da população portuguesa tinha mais de 46,8 anos de idade. Por esta razão, falar de mercado de trabalho em Portugal implica falar de envelhecimento da mão de obra, nos vários setores.

Em 2021, por cada 100 jovens – entre 0 e 14 anos – existiam 182 idosos, com idade igual ou superior a 65 anos. O número resulta de uma taxa de crescimento médio anual do índice de envelhecimento de 3,6%.

A acompanhar esta tendência está a redução da população ativa. Entre 2008 e 2021, Portugal registou a terceira maior redução na Europa – de 328,8 mil pessoas – depois da Roménia e da Grécia. E as projeções não mostram dados diferentes.

Segundo dados oficiais, a faixa etária com mais de 65 anos vai continuar a aumentar em Portugal – de 2,2 milhões, em 2018, para 2,8 milhões, em 2033 – enquanto a população em idade ativa vai cair de 6,5 para 5,8 milhões, no mesmo período. Significa que a população nacional com mais de 65 anos será superior a da população ativa, perfazendo quase cinquenta por cento (48,5%).

Nas empresas privadas ou na Função Pública, a tendência é “refrescar” os quadros e muitos são os que deixam o mercado de trabalho, através da reforma antecipada, mesmo antes dos sessenta.

O Observatório Nacional do Envelhecimento (ONE), instituição que está a colaborar com o Governo numa estratégia da longevidade, com foco nas condições de trabalho, habitação, acesso à saúde ou a passagem à reforma, considera essencial “chegar às empresas e ao próprio Estado”.

Afinal, ambos têm um papel fundamental para a melhoria das condições de trabalho dos colaboradores mais velhos.

Sobre longevidade no trabalho

As entidades empregadoras têm, necessariamente, de implementar estratégias de promoção e bem-estar dos trabalhadores, em especial os mais velhos, oferecendo ferramentas, formação e funções adequadas.

Temos um preconceito muito enraizado relativo à idade na cultura portuguesa e isso estende-se ao mundo do trabalho. É uma questão de extremos: nem os mais velhos, nem os mais novos são vistos como produtivos e competentes. Uns porque acabaram de chegar e ainda não sabem, outros porque estão ultrapassados e já não sabem.

A investigadora Sheila Callaham, autora de diversos artigos na revista Forbes sobre Longevidade, igualdade no trabalho, perante a realidade idêntica nos Estados Unidos da América (EUA) e decidida a contribuir para uma mudança positiva, criou uma Organização Não Governamental (ONG) para entrar nas empresas: a Age Equity Alliance, com o objetivo de “Desbloquear o Potencial”.

Diz a investigadora que “muitos consultores que estão focados no trabalho dos mais velhos dizem: não tens emprego porque não estás atualizado, não percebes como se escreve um currículo, não estás empregado porque a culpa é tua. Mas eu acredito que o problema não é da pessoa, o problema é que não há portas abertas para os mais velhos”.

Com uma equipa multidisciplinar composta por investigadores, e profissionais das áreas de tecnologia e recursos humanos, a ONG “educa” as organizações para a longevidade.

Missão: educar para a longevidade

Se para algumas empresas a grande preocupação é “como reter o talento e ajudar os mais velhos a comunicar com os restantes colaboradores”, para outras ganha o preconceito, vendo os mais velhos como profissionais pouco produtivos que “estão só à espera da reforma”, explica Sheila Callaham.

Assim, a solução passa por mudar a cultura e mentalidade, o que constitui a longo prazo.

Acrescenta a consultora norte-americana que “um dos grandes erros cometidos pelas empresas é verem retorno financeiro ao contratar apenas jovens, o que não é real” e remata dizendo que devem, antes, valorizar quatro ou cinco gerações nos seus postos de trabalho. “Essa diversidade é muito válida”, conclui.

Uma nova realidade, novos desafios

Num país onde se privilegia a reforma antecipada, a favor da entrada de colaboradores mais novos nas empresas, a realidade mostra outros desafios. Maior longevidade, implica envelhecimento e o mercado de trabalho terá de se adaptar, cada vez mais e melhor, a isso. Uma adaptação das empresas e dos próprios profissionais.

Considerando o facto de muitos se sentirem capazes de manter a sua atividade profissional por mais tempo, esses precisam de se atualizar, de tirar partido da sua experiência e conhecimento e manterem cargos adequados às suas funções e capacidades, em equipas mais heterogéneas, mais ricas e mais produtivas. Para o efeito, as empresas devem preparar-se para dar as melhores respostas, traçando novas estratégias, dando novas oportunidades, criando novos desafios, inovando, promovendo a saúde, o bem-estar. Este é um trabalho de todos.

O valor dos idosos no mercado de trabalho

Ao contrário do que ainda se pensa, os idosos, ou pessoas mais velhas, têm um grande valor para as empresas e organismos públicos e privados. Caso ainda haja dúvidas, deixamos alguns pontos a considerar relativamente aos trabalhadores mais velhos:

  • conhecem muito bem a empresa, nomeadamente pessoas, crises passadas, problemas e respetivas soluções;
  • há coisas que não mudam e os mais velhos sabem bem o que não vale a pena tentar;
  • têm muito conhecimento para passar aos mais novos;
  • muitas vezes, veem a entidade patronal como parte da sua vida, o que implica um especial respeito e dedicação;
  • conhecem, sabem passar e fazer cumprir os valores da empresa.

Dicas para manter a motivação e produtividade

Para os profissionais que já estão na faixa dos 60 ou a chegar lá, que gostam do que fazem e não querem deixar de trabalhar tão cedo, ficam algumas dicas (para quem precisar) para se manterem motivados, integrados, produtivos e felizes no seu local de trabalho.

  • Procure novos desafios e aprender coisas novas.
  • Converse igualmente com colegas de diferentes idades, todos têm sempre a aprender uns com os outros.
  • Defina tarefas e prioridades, com datas/prazos a cumprir.
  • Peça ajuda ou procure saber, se não conseguir resolver um problema.
  • Use a experiência e sabedoria para gerir equipas e problemas.
  • Mantenha-se atualizado e/ou procure aprender algo novo.
  • Seja um embaixador da empresa.
  • Faça uma boa higiene do sono e uma alimentação equilibrada.
  • Socialize.
  • Pratique exercício.

O envelhecimento é inevitável, bem como a longevidade e a capacidade de trabalhar até mais tarde. A crescente presença de idosos no mercado de trabalho em Portugal é uma realidade e há que saber tirar o melhor partido dela.

Veja também