Catarina Milheiro
Catarina Milheiro
06 Nov, 2023 - 15:23

Um terço dos jovens desempregados tem até o 9.º ano

Catarina Milheiro

A maioria dos jovens desempregados tem até 29 anos. Cerca de um terço deles só têm o 9.º ano de escolaridade.

Será que estamos realmente a par sobre a quantidade e o perfil dos jovens desempregados no nosso país? A verdade é que a crise que sucedeu a pandemia trouxe com ela agravamentos nos números do desemprego jovem no último ano.

Aliás, em 2021 chegou mesmo a atingir os 23,4%. Mas ainda assim, no último ano, foi possível verificar uma pequena redução – cerca de 19% dos jovens, entre os 15 e os 29 anos, estavam em situação de desemprego em 2022.

Um estudo realizado pelo ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, baseado nos últimos 4 anos do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), revela que no ano anterior, quase 30% dos jovens desempregados tinham apenas o 9.º ano de escolaridade e 47% só concluíram o 12.º ano.

Para além disto, dos jovens que terminaram o ensino secundário e que estão desempregados, 28,5% frequentaram cursos profissionais.

De facto, são valores que nos fazem refletir bastante e questionar sobre o futuro cada vez mais incerto dos jovens no nosso país.

O perfil dos jovens desempregados em Portugal

É extremamente importante percebermos qual é o perfil dos nossos jovens desempregados para compreendermos um pouco melhor a realidade do nosso país.

De uma forma geral e segundo o relatório do ISCTE, cerca de um terço dos jovens desempregados, isto é, 29%, só tem o 9.º ano de escolaridade e são os que mais tempo demoram a encontrar um novo emprego. E a verdade é que a situação tende a agravar-se.

Com o intuito de melhorar a situação profissional destes jovens, o próprio ISCTE recomenda que sejam criadas oportunidades de formação em contexto de trabalho. Provavelmente questiona-se sobre como poderia isto acontecer? Por exemplo através de contratos de formação nos quais as empresas aderentes seriam apoiadas financeiramente.

Por outro lado, para os alunos que alcançam o 12.º ano de escolaridade, o Instituto Universitário de Lisboa sugere que se façam campanhas para incentivar os jovens a continuarem os estudos e a melhorarem a atratividade dos cursos profissionais, de forma a que sejam cada vez mais os jovens a optarem por esta via de formação.

Para os licenciados os números do desemprego variam consoante a área

Se ainda acreditava que apenas os jovens menos qualificados seriam afetados pelo desemprego, engane-se. Para os jovens licenciados os números do desemprego variam consoante a área.

Assim, saiba que as áreas mais atingidas são as seguintes: “Artes e Humanidades”, “Ciências Sociais, Informação e Jornalismo” e “Ciências Empresariais e Direito”.

Por outro lado, e para os jovens que possuem um mestrado ou um doutoramento, as áreas com a taxa de desemprego mais elevada são a da “Educação”, “Ciências Naturais, Matemática, Engenharias” e “Saúde e Proteção Social”.

Neste sentido, o ISCTE sugere algumas políticas para que seja possível apoiar os jovens licenciados que não conseguem encontrar emprego:

  • Aumentar o investimento em programas de “reskilling” envolvendo as instituições do Ensino Superior;
  • Desenvolver campanhas com as empresas para incentivar a contratação de jovens que tenham estudado numa das áreas de formação mais atingidas pelo desemprego;
  • Dar prioridade aos jovens proveniente das áreas de formação com menor empregabilidade nos serviços públicos de emprego (IEFP).

Existem mais fatores que poderão estar na origem do problema?

Na verdade, sim, existem. Quase metade dos jovens desempregados não está inscrita nos serviços públicos de emprego. O que significa que, apesar de ainda não terem um posto de trabalho, os mesmos não estão a receber subsídios.

De facto, a principal causa para o desemprego entre os trabalhadores com idades mais novas é precisamente o fim dos contratos a termo certo. Aliás, o estudo realizado pelo ISCTE refere mesmo o seguinte:

“Existe uma elevada percentagem de jovens desempregados que não está inscrita no serviço público de emprego. Em 2022, cerca de metade dos jovens desempregados não estava inscrita, correspondente a 50,5% dos jovens à procura de primeiro emprego e 50,7% dos que procuram novo emprego”.

Para que consiga ter uma noção mais aproximada da realidade, os contratos a termo certo foram a principal causa de desemprego, tendo sido referida por mais de 42% dos jovens que procuravam emprego no ano passado.

Além disto, também o setor onde trabalhavam antes de ficarem desempregados é um fator importante. Em 2020, 26,3% dos jovens desempregados trabalhavam na área do Comércio por grosso e a retalho, reparação de veículos automóveis e motociclos e 22,4% na área do alojamento e restauração.

A fim de evitar que estes números aumentem, é necessário então criar campanhas que incentivem os jovens a prosseguir os estudos, a inscreverem-se nos serviços públicos de emprego e a optarem cada vez mais pelo ensino profissional.

É importante explicar aos mais novos a importância de ter um curso profissional e/ou uma licenciatura. Afinal, perante alguém que esteja a procurar ativamente emprego e que tenha apenas o 9.º de escolaridade, este será um fator decisivo à partida.

Trata-se de pensar no futuro dos jovens de forma a que consigam ver a luz ao fundo do túnel, sem que tenham que pensar que têm de arranjar dois empregos para conseguirem obter um salário digno em Portugal.

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